Uma história de amor; de sobrevivência num mundo parcialmente pós-apocalíptico; de juventude; de guerras; de família e ancestralidade. Mas tudo contado de uma forma bem mais ou menos.
40 Acres é um filme de ação que brinca com outros subgêneros para justificar tamanha violência e sanguinolência em plena área rural do Canadá. Ao longo de quase duas horas, o filme tenta narrar a clássica história de ação em um mundo pós-apocalíptico — onde não se pode confiar em ninguém, a não ser nos seus pares.
É uma história conhecida, sobretudo para quem gosta da temática de “fim de mundo”. Mas já se torna frustrante ter que ouvir as mesmas justificativas para os meios que todos esses filmes carregam; é como se você estivesse reassistindo todo e qualquer filme de zumbi, ou de fome e isolamento mundial, novamente.
Mas 40 Acres se propõe a seguir outro caminho: explorar a ancestralidade (estadunidense) para traçar esse “pós-mundo”, com um pretexto de resistência e legado, através desses ancestrais.
Ele se propõe… mas não cumpre. Na verdade, na metade do filme, parece que R.T. Thorne, diretor da obra, esquece do que estava falando e começa a empurrar um romance adolescente, que dura pouco e é mal desenvolvido. Lembra diretamente tudo de ruim que acontece em séries como The Walking Dead ou Falling Skies, quando, para “apimentar” a trama, fogem do tema e acabam apagando a brasa da produção. Pergunto: precisava replicar o pior do “pós-apocalíptico” em um filme de duração tão curta?
Acaba que todo esse papo ancestral e familiar termina sendo apenas uma justificativa para ter um elenco majoritariamente preto, com uma história nada inédita e já recontada mil vezes, com um tempero do que poderia ter sido, se fosse melhor conduzida.
40 Acres, aliás, já é uma referência à história real dos Estados Unidos, com a famosa “quarenta acres e uma mula”, ordenamento da Guerra Civil Americana que atribuía terras às famílias libertas. Mas o filme não avança nisso. Não se distribui, não se faz valer em negritude, em ancestralidade, em nada.
Se não havia condições de desenvolver, para quê se arriscar a fazer uma pseudo-representação, ou falsas referências históricas? Termina falacioso, pouco profundo, mas com muita vontade de ser marcante por isso. É como se hoje vivêssemos o que o Blaxploitation poderia ter sido: uma forma de contar e criar histórias tantas vezes narradas como se pretos não existissem nesse mundo. Mas 40 Acres peca pela falta de desenvolvimento e de dualidade em personagens que, do começo ao fim, agem e falam as mesmas coisas. Não há crescimento, só frases feitas “em prol da família e do legado dos antepassados”. Não me parece uma história DE PRETOS, mas COM PRETOS. E mostrar, por si só, não representa nada.
De resto, claro, o filme não deixa de ter uma ação incrível! Todas as sequências sanguinolentas são muito bem feitas e cada luta é palpitante. Aprende muito com o gênero tão amplamente difundido e entrega takes e cores bonitas no meio do caos de uma guerra por terras e recursos. Apesar das justificativas rasas, não esqueço que é um filme de ação — e tão somente isso. É divertido, empolga, mas não desenvolve o que promete desenvolver. E o final feliz é puramente um jeito de procurar uma grande vingança, por muito mais que quarenta acres e uma mula.