Se você gosta de histórias sobre os bastidores de um filme, saiba que a nova série da Netflix idealizada por Ryan Murphy, Hollywood, tem essa premissa e consegue ir além, criando uma realidade alternativa! Mas será que funciona? Vamos descobrir!
Quando assistimos filmes da Era de Ouro do cinema hollywoodiana, momento em que o “sonho americano” estava nos seus melhores dias após o fim da Segunda Guerra Mundial, percebemos um certo “padrão” estabelecido pelos grandes estúdios na concepção dos filmes. Isso começa logo na pré-produção de um longa-metragem, e essas restrições ficam evidentes desde o momento de escolha da história certa a ser abordada, até o perfil dos envolvidos na produção, fruto do restrito Código Hays que estava em vigor naquela época, e assim foi até o final dos anos 1960.
A série é ambientada em 1947, dois anos após a saída de Will H. Hays da presidência da MPPDA (atual MPAA), que regulava esse tipo de coisa. Porém, naquela época, ele havia indicado pessoas “de confiança” (e consequentemente, que compactuava das mesmas ideias) que continuariam com as restrições aos longas-metragens. A série Hollywood mistura personagens reais e fictícios, e não temos um único protagonista definido, mas vários jovens que chegam a Los Angeles em busca de um sonho e acabam se frustrando, mas decidem levar adiante um projeto cinematográfico revolucionário. Ao mesmo tempo, conhecemos os bastidores do fictício Ace Studios, onde também são explorados os dilemas dos produtores, discutindo temas importantes, como aceitação, empoderamento e feminismo.
Visto que os personagens idealizados por Ryan Murphy tendem a ser mais complexos, com atitudes muito “humanas”, isso funciona muito bem aqui. Nos importamos com todos eles, que desafiaram os padrões da época, ainda que na nossa realidade, as coisas ocorreram de forma bem “diferente”. Isso, por sinal, gerou várias críticas a série, por optar por um caminho mais otimista e sem se prender muito aos fatos, tomando as devidas liberdades poéticas. Essa escolha, na minha opinião, foi certeira, uma vez que além de deixar os fãs de cinema babando com histórias de bastidores, Hollywood traz uma mensagem poderosa de superação, deixando a gente com um sorriso no rosto e com a esperança de que é possível realizar os nossos sonhos.
Em aspectos narrativos, a série – que conta com apenas oito episódios – se sai muito bem, prendendo a atenção até o fim, graças ao roteiro certeiro que faz referências a acontecimentos daquela época e seguem numa direção diferente, criando uma espécie de universo alternativo, sendo um mundo “quase ideal”. Se atualmente o preconceito é uma das piores coisas exclusivas do ser humano, imagine isso na década de 1940. Na história temos um diretor com descendência asiática (Darren Criss), um roteirista negro e homossexual (Jeremy Pope); uma atriz negra (Laura Harrier) que é escolhida para ser a nova protagonista, mesmo a contragosto dos sulistas donos de cinema; uma mulher que passa a comandar um grande estúdio (Patti LuPone), entre outros. Isso é algo muito positivo, e somado às referências que a série faz, – onde obras como o obscuro A canção do sul, um filme extremamente racista da Disney realizado em 1946, são citadas – temos uma obra de ficção que dialoga muito com a realidade e também com o próprio estilo do Ryan Murphy de contar uma história.
Dentre os personagens reais, temos a Hattie McDaniel, atriz negra que apesar de ter ganhado o Oscar por …E o vento levou (1939), foi barrada na cerimônia; Rock Hudson, ator cuja homossexualidade chamava a atenção da mídia daquela época; assim como Henry Wilson, o abusivo agente de Rock que é o mais próximo que temos de um antagonista, interpretado por Jim Parsons; a injustiçada Anna May Wong, atriz asiática que perdera o papel que poderia mudar sua carreira (o estúdio preferiu optar por uma outra atriz que não tem essa descendência) entre outros, como o diretor George Cuckor e a atriz Vivien Leigh.
Uma participação que eu gostaria de mencionar é a do ator Dylan McDermott que interpreta o fictício Ernie West, dono de um posto de gasolina onde seus funcionários fazem programas com celebridades locais, e assim tendo certa influência com os donos de estúdio e cineastas daquela época. Outro destaque é a personagem de Patti LuPone, Avis Amberg, que toma um rumo completamente inesperado, tendo uma crescente muito significativa através do seu posicionamento e suas atitudes diante dos problemas enfrentados pelo estúdio.
Se tiver um ponto negativo, creio que seja a forma como problemas gritantes são resolvidos de forma bem rápida, o que já torna Hollywood previsível. No final do penúltimo episódio (sem spoiler), por exemplo, temos um arco dramático que certamente iria impactar muito mais os personagens, mas no episódio seguinte isso é rapidamente resolvido em prol de um desfecho satisfatório. Mas isso não compromete a mensagem e a força de Hollywood, que tem uma essência única. Sim! Eu chorei com esse final, taokei?!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Hollywood é uma minissérie sensacional que foi feita para ser maratonada bem rapidinho, num único dia, mesmo! ! Se você ainda não viu, corre na Netflix e assista imediatamente!