Destacamento Blood é o novo filme do Spike Lee, e nos propõe um recorte da guerra do Vietnã diferenciado; sem mentir, nem omitir. É um retrato racial e social que resgata o ontem das lutas sociais com o nosso hoje!
Destacamento Blood (Da 5 Bloods) chega à Netflix com a proposta de ser um drama mais aproximado da real guerra do Vietnã, a qual os Estados Unidos da América saíram como derrotados (diferentemente do que os filmes oitentistas gostam de contar). O filme é um recorte histórico, que ao mesmo tempo mistura realidade e ficção de forma muito bem dosada.
Essa na verdade tem sido a grande marca da direção de Spike Lee: A construção de uma ficção completamente embasada e fortificada por relatos reais, fotografias, documentos, vídeos e recortes do nosso mundo real, que engrossam o caldo das histórias que conta; assim foi em Infiltrados na Klan (2018), e assim também é em Destacamento Blood.
Essa fusão da realidade e ficção é tão presente na obra que atravessa o texto, e transforma-se em imagem. Sob a direção de imagem de Newton Thomas Sigel (Franquia X-Men, Bohemian Rhapsody), Destacamento Blood brinca com o visual oitentista do cinema, representando os flashbacks dos Bloods com uma imagem granulada e quadrada, no lugar do Widescreen, nos fazendo viajar de volta a estética dos anos 70 bem além do que é mostrado, mas também como nos é mostrado. Se faz real, ainda que em uma ficção.
Esqueça as incontáveis narrativas norte-americanas da guerra do Vietnã, que sempre colocam o Tio Sam como o verdadeiro herói, que só queria trazer a paz; Lee, do começo ao fim do filme, faz duras críticas ao Sonho Americano, e sobre quem tem direito a este sonho. Da 5 bloods expõe cicatrizes sociais e raciais que ainda não sararam nem nos EUA, nem no resto do mundo. Cicatrizes de uma guerra injusta, esvaziada de significado e que usa corpos negros como escudo-humano.
Não se engane. É claro que é um filme de ficção e guerra, que conta uma história de 5 personagens fictícios dentro de um universo adaptado por Spike Lee. Mas o contexto, o embasamento, e todo o cenário que cerca a ficção de Lee é real, e perigosamente atual. São as discussões raciais em cada entrelinha que expõem um país que pouco se importa com as questões sociais que estão sendo debatidas hoje nas ruas. Um periscópio sobre vivências e resistências; a arte imita a vida.
Destacamento Blood faz-se uma verdadeira aula de história, conectando passado e presente, manifestando algo que tanto pensamos para nós mesmos: Depois de tanto tempo, nada mudou? É um filme revigorante, que acerta em muito na sua discussão social, racial e principalmente em seu timing. A Guerra do Vietnã parecia ter sido um tema explorado até a exaustão… Até agora.