The Boys é uma série da Amazon Prime Video inspirada numa história em quadrinhos homônima. A nova produção do streaming fez muito barulho em 2019 e tem uma segunda temporada programada para 2020, mas será que vale a pena assistir?
Como eu disse na introdução, The Boys é baseada em uma série de HQs criada por Garth Ennis e Darick Robertson e, honestamente, não sabia da existência desta antes do anúncio de que a série de TV estava sendo produzida. Dessa forma, preciso bancar a Glória Pires no Oscar e afirmar que “Não sou capaz de opinar” no que diz respeito a fidelidade à obra original. Analisando isoladamente, a série se mostra espetacular ao abordar de forma tão realista o nosso mundo sendo povoado por pessoas com habilidades sobre-humanas.
A trama mostra que indivíduos com poderes de origem desconhecida são literalmente produtos de uma multinacional chamada Vought, que os transforma em super-heróis que, aos olhos da população, são praticamente deuses perfeitos, em particular o grupo conhecido como Os Sete, os maiores heróis do mundo. Porém, por baixo do sorriso escancarado para a mídia, essa galera é em sua maioria arrogante, negligente, irresponsável e, até mesmo, corrupta! Sendo assim, eles só salvam vidas no momento em que aquilo for oportuno para eles, havendo a oportunidade de promover sua imagem afora. Após uma tragédia pessoal, o jovem Hughie Campbell (Jack Quaid, de Jogos Vorazes) acaba se unindo a um grupo de vigilantes liderados por Billy Bruto (Karl Urban, de Dredd) para desmascarar Os Sete e a Vought, e acabam se envolvendo em uma conspiração assustadora.
É inevitável que, com as apostas cada vez mais mirabolantes dos grandes estúdios em produções de super-heróis, a Amazon fosse surfar nessa onda. O resultado que eles entregaram, no entanto, consegue ser muito satisfatório, se sobressaindo no meio de tantas outras do gênero que acabam chovendo no molhado, ainda que gerem rios de dinheiro para a indústria. Acredito que chamar essa série de “sátira” cai muito bem, visto a forma como eles abordam os elementos já batidos do gênero, através de criticas sociais, violência extrema e muito humor ácido!
São apenas oito episódios que desenvolvem bem a trama, com um roteiro que prende a atenção inserindo personagens bem construídos em uma trama, por incrível que pareça, realista. O grupo de “heróis” funciona quase como uma versão maligna da Liga da Justiça, com alguns elementos dos Vingadores, bebendo tanto da fonte da DC quanto da Marvel. O ritmo é bem alinhado, salvo alguns momentos principalmente nos últimos episódios, onde determinada situação desnecessária acontece e não leva a lugar algum, a não ser deixar um gancho para a temporada seguinte. Porém, a forma como eles mostram essa “deixa” foi apressada, e num momento onde The Boys já ia muito bem, mas esses elementos não atrapalham sua experiência.
A série apresenta várias críticas pontuais, falando sobre manipulação religiosa, justiça com as próprias mãos, corrupção e ausência de limites. Apesar de eu gostar de obras que tem essa pegada violenta com um tom cômico no gore – e aqui o negócio é bem caprichado, mesmo, com algumas cenas bem absurdas – é no humor que a série cria sua marca registrada, sendo bastante escrachado, tirando sarro inclusive com religião e até mesmo com crianças. Isso pode dividir bastante a galera, mas o elemento do humor funciona muito bem dentro da proposta apresentada.
O elenco é magistral, com atuações competentes. A minha favorita foi a Annie/Starlight, interpretada por Erin Moriarty, cuja personagem realiza seu sonho de entrar para Os Sete, mas acaba tomando um balde de água fria quando descobre quem são aquelas pessoas; outro que rouba a cena é Karl Urban, interpretando um cara bem sinistro, violento e com um humor peculiar; Antony Starr também tá por aqui, interpretando o Capitão Pátria, o líder extremamente poderoso dos Sete, tido pelo mundo quase como um Messias, mas na verdade é um verdadeiro babaca, um homem arrogante, sádico e violento, protagonizando umas cenas que fazem a gente sentir raiva dele, que mantém seu rosto sempre impassível, quase um sociopata; Elizabeth Shue também manda bem como a Vice-presidente da Vought e praticamente a mentora dos Sete, rendendo bons momentos, e a dinâmica dela com o Capitão Pátria é boa, mas podia ser melhor explorado.
Definitivamente, é uma série para maiores de idade, com personagens nada convencionais, justamente por serem tão realistas. Se o nosso mundo tivesse pessoas com super poderes, provavelmente o resultado seria esse. Eu também esperava mais cenas de ação no final, mas talvez isso tenha sido proposital para preparar a gente para a temporada seguinte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
The Boys é uma série sensacional, uma grata surpresa para fãs de super-heróis e também para leigos que gostam de ver uma abordagem diferente das coisas, algo que saia um pouco da caixinha. Ficou interessado? A primeira temporada tá lá na Amazon Prime, e a segunda chega em Setembro!