SOUL, a animação que veio finalmente trazer o primeiro protagonista negro da Disney/Pixar para as telas – Dirigido por negros como Kemp Powers! Acompanhamos a jornada de Joe Gardner, um professor de música negro e amante do Jazz em busca de alimento para a sua alma.
Soul é a nova animação da Pixar/Disney, que chega nos canais de stream da Disney+ ainda no final de 2020. Um filme que de forma bem simplista, mas bem-humorada se propõe a discutir sobre o “pós vida” e também sobre o que acontece conosco antes de nascermos; o “pré vida”. No meio disso, nosso protagonista, o professor de música Joe Gardner busca sentido para a sua vida na terra, tentando viver o que acredita ser seu maior sonho: Um pianista de Jazz reconhecido.
Logo que o filme foi divulgado para lançamento, uma grande preocupação tomou conta do ar: Soul é um filme sobre este professor de música que é negro. Personagens negros em filmes de animação historicamente não passam muito tempo em tela; logo são transformados em seres não-humanos, como animais, insetos, seres de luz, e tantas outras coisas. E o que acontece no decorrer de Soul… É bom, mas deixa um sentimento agridoce.
Joe Gardner, nosso primeiríssimo protagonista original negro da Disney/Pixar passa os 10 primeiros minutos do filme como homem negro, compartilhando conosco em tela suas vivências, experiências e seu cotidiano. Passados os 10 minutos, o personagem passa “o resto do filme” na forma de uma alminha fofinha, aos moldes de Divertidamente. Felizmente, isso não significa que perdemos a essência do personagem: Ele continua ali, e continua em cena, vivendo de uma forma diferente a sua vida, tentando consertar as situações que o levaram até ali.
Quando digo que é agridoce, é porque vejo como uma pequena perda ter a oportunidade de mudar a fórmula do “negro que se transforma em algo místico” dentro dos filmes de animação; há uma subversão, mas seguimos nos moldes do negro místico. Outra coisa que incomoda, mas não necessariamente atrapalha, é o fato do filme deliberadamente colocar Joe como guia da também protagonista 22, descrita na maior parte do filme como uma mulher de meia idade branca, em sua jornada para se transformar em humana, no “pré vida”.
Esse é outro dos estereótipos do negro em filmes: Um guia místico, que está ali para ajudar a personagem branca a resolver seus problemas. Novamente, não é como se fosse intenção da produção de Soul – formada em sua maioria por pessoas negras – de perpetuar um estereótipo. Mas ele está lá, e se repete. Os diretores/atores Jordan Peele e Keegan Michael, no canal de sketchs deles KEY AND PEELE, já fizeram até um pequeno vídeo sobre esse estereótipo, e quem quiser conferir, tá logo aqui embaixo!
No final, Soul é uma animação bem aos moldes da Disney/Pixar: Linda, marcante e com uma bela mensagem sobre viver sua vida de forma plena, e não só viver em uma busca incansável de algum sonho, ou uma obsessão. A vida é bem mais que um momento de luz. Feliz que tenham nos mostrado isso na perspectiva de um professor negro e em suas aspirações ao Jazz, ao Blues, e toda forma de música negra improvisacional, ainda que no fim, isso tudo fique em segundo plano. Soul, no fim das contas, é literalmente sobre o que alimenta a nossa alma… Uma pena que os personagens negros da Disney/Pixar não podem ter sonhos e aspirações… O discurso termina como antes já terminou em Tiana: Um final não-utópico para um personagem não-branco.