E com a chegada do novo (de novo) filme do Homem Aranha aos cinemas – SpiderMan No Way Home – Percebo mais algo que já vem universo da Marvel, pós eventos catastróficos (e catárticos) de Vingadores: Ultimato; Não dá para viver só de eventos catastróficos e interplanetários… Mas talvez haja uma luz no fim do túnel.
(CONTÉM SPOILERS)
O fato é que SpiderMan No Way Home já chegou hypado e totalmente instigado ANTES MESMO de ser lançado, e antes mesmo de ter sua divulgação oficial, com trailers e teasers. No “boca a boca” o filme foi se criando, com teorias e boatos, com entrevistas e conspirações, até se tornar uma bola de neve sem precedentes – E esse efeito midiático pode ser bastante danoso para a obra final, ainda que extremamente lucrativo. Mas não falo no sentido de vendas de ingressos, ou do “efeito manada” provocado pelos filmes Marvel sempre… Me refiro mesmo à qualidade do produto final.
É como se, mesmo após ao mais grandioso arco da Marvel Studios, com o fim de Thanos, a empresa e os fãs ainda quisessem experimentar a cada lançamento de filme, série e animações, o mesmo efeito catártico, experimentado após Vingadores. Um pequeno Spoiler: NÃO DÁ! Vingadores Ultimato foi a construção de mais de 10 anos de filmes, personagens, eventos, e equipes de heróis… Não cabe a um filme do Homem Aranha – mais especificamente ao OITAVO FILME do cabeça de teia, ser o filme das proporções estrondosas da Marvel.
Mas aí entra o fator essencial para levantar o argumento, a trama e o roteiro de No Way Home; sozinho, o Spider de Tom Holland não tem profundidade suficiente para desenvolver um 3º filme que não seja como o seu segundo: Desnecessário e bobo. Um filme de férias. Contudo, ao trazer personagens de outros tempos (ou universos) do herói da vizinhança, nos tempos em que os filmes de heróis eram novidade, a qualidade muda. A história se aprofunda. O fato é que os heróis e vilões de antes do universo da Marvel atual são muito mais bem escritos, explorados e verdadeiramente humanos – Os heróis (e vilões) imperfeitos. Cheios de defeitos, brilhantismos e ganância; mas não com motivações extraterrestres e interplanetárias. Não com o efeito de causar uma dominação mundial ou mesmo acabar com a terra… E sim com motivações tão humanas quanto eles mesmos.
É isso que nos faz pensar constantemente, enquanto assistimos o novo filme SpiderMan: No Way Home: “Puxa vida! Como é bom assistir um filme com o Alfred Molina como Doutor Octopus novamente. Caramba, como é medonho o Duende Verde e DaFoe!” e por aí vai. São vilões e heróis construídos para caberem *em seus próprios filmes,* algo que a MARVEL já abandonou há bastante tempo. Hoje, efetivamente nenhum filme do universo Marvel é feito para caber em si mesmo, e isso é muito problemático para os roteiros. Um filme do Doutor Estranho não será sobre o Doutor Estranho, mas sim, para introduzir uma nova fase do universo cinematográfico; o novo filme do Pantera Negra não será sobre o Pantera Negra, e sim para o que vem depois, e assim por diante. São filmes para introduzir novos filmes, novas pós-créditos, novas séries, etc etc etc. Significa dizer então que os diretores e roteiristas não podem fazer muito pelo personagem, e precisam trabalhar de forma contida, para que assim não “estraguem” o que pode vir a fazer este personagem depois. E isso tem se repetido há tanto tempo, que a gente esquece, ou se acostuma em ver os danos causados às justificativas dos heróis/vilões de cada filme. Alguns exemplos disso a seguir:
Para que caibam em filmes em que não são personagens principais, a Marvel fará uma “idiotização”, ou “emburrecimento” do personagem. Em No Way Home, Doutor Estranho age de forma imprudente e até imbecil, em comparação com todas as magias que já praticou até aqui. Depois que torna-se algo grandioso demais, uma “nova fase” da Marvel, esquecemos o quão pífia é a justificativa. Mas a causa dos multiversos, até aqui, é para que Peter Parker e seus amigos não sejam assediados pela mídia e percam a chance de entrar para a MIT. A magia de Dr. Estranho falha. Ainda assim, da metade do filme para frente, a mídia o esquece, independentemente de feitiços, e o “mundo real” do Tom Holland aguarda ele resolver tudo, antes de se meter novamente. A maior magia – e erro – de todos os tempos já praticada por Strange, é em prol de algo tão absurdamente inútil, que chega a ser inacreditável. Mas talvez alguém diga: “Ah, no próximo filme eles explicam…”
Certo. Devemos “engolir” isso, e seguir em frente, pois assim são os filmes da Marvel e seus roteiros e justificativas…
… Isso não é surpresa pra ninguém.
Mas o que vem a seguir é o que realmente consegue trazer brilho para o filme: Os heróis e os vilões. Volto a bater na tecla, quando o filme é direcionado para si mesmo, e não para o que vem a seguir, tudo funciona mais suavemente! Temos a volta de Garfield e Maguire como os cabeças de teia, cada um de seu universo, e a volta de seus vilões, alguns bem feitos (Octopus, Duende, Electro), outros que deixaram a desejar (Areia e Lagarto). O que verdadeiramente salva, emociona, nos faz rir e alguns até chorar nos cinemas é a qualidade da essência dos personagens; Peter Parker e o Homem Aranha são os heróis que os fãs naturalmente mais sentem-se próximos. Um jovem, cheio de sonhos, dificuldades da vida mundana, sem pais ricos, e vivendo em bairros populares de suas cidades.
As relações construídas recentemente no trio de amigos do Spider de Tom Holland, a tragédia vivida com o Espetacular de Andrew Garfield e por fim, a humanidade do cabeça de teia de Tobey Maguire e seus mentores/vilões, nos fazem acreditar naquele roteiro, naquele filme, naquela história dali pra frente. Para trás, um filme bagunçado, quando pensamos nos efeitos dele para o Universo Cinematográfico, mas o resgate do filme como uma unidade, como costumávamos ver nos antigos ‘Homens Aranhas’ elevam a trama, as profundidades e cada diálogo (re)vivido por cada um que fez parte dessa história de oito filmes. Antes mesmo dos Vingadores, da Marvel como é hoje e seu conglomerado midiático.
Foi bom reviver uma vez mais o personagem simples, humilde que é, e altamente humano, exceto por uma picada de aranha, que é a essência do Spiderman. Um herói imperfeito. O jovem desbravador que divide sua vida social com a vida de herói da vizinhança, aquele herói que convidou muitos e muitas de nós a ler quadrinhos e nos imaginar como ele, o atrapalhado cabeça de teia.
8,5/10