Um filme que é mais um sentimento, algo animal, que vai além dos diálogos, além do que pode ser dito. Flow – um filme para ser sentido.
“O gato é um animal solitário que, um dia, enquanto é perseguido por uma manada de cães, vê seu lar ser devastado por uma grande enchente. Buscando uma forma de sobreviver após a inundação, ele enfrenta diferentes ameaças, até que encontra refúgio em um pequeno barco povoado por diversas espécies.”
Sinopse Adorocinema.com
Flow é um filme bastante sensorial, dirigido por Gints Zilbalodis (Projām, 2019), que nos coloca num mundo imaginativo de perspectivas que não as nossas. De escolhas, prioridades que não as humanas. Sem dizer uma palavra sequer, nos faz entender as relações — por necessidade — que surgem dali, mesmo que não entendamos os motivos pelos quais aquele mundo está como está.
Aclamado em Cannes e amado por crianças e adultos em todo o mundo, Straume (título original da animação belga-letã-francesa) é isso mesmo que seu nome sugere: movimento. Um filme vibrante, criativo, natural, em todo o seu desenho digital. É bonito e mistura técnicas diferentes para nos mostrar essa beleza — entre um realismo incrível, com toda a flora ao redor, e desenhos com traços mais infantis, na fauna. E o mais impressionante: tudo feito na base do código aberto Blender, contrariando toda a tendência de animações cada vez mais detalhadas e recheadas.
Por diversas vezes, fui remetido aos jogos que marcaram o PlayStation 3/PS Vita, com sua subjetividade, pouco diálogo e muita exploração. Me lembrei imediatamente de Flower, Thomas Was Alone, o próprio flOw, do PS Vita. Não há inimigos, não há maldade. Há o mundo que vibra, se contorce, acontece e flui ao redor. Um filme cheio de sensorialidade, e muito sensível também, com o perdão da redundância. Marcante por sua leveza, naquilo que nunca chega a ser uma ameaça (mesmo quando o é), mas sim um acontecimento da vida animal. Envoltos por toda a sorte de acontecimentos, e contando com a sorte em todo o processo.
De tanta fluidez, é até estranho quando Flow faz das ações da “equipe” dos bichos, ações humanas. Como negociam escolhas entre olhares, como por vezes aconteceu dentro do barco. Estranho como constantemente acontece o “Deus Ex Machina” do salvamento do gato. Seriam suas sete vidas?
Flow – um filme para ser sentido
Não sei. Mas isso passa. O que permanece é o sentimento de um filme completo, numa aventura tão comum — apesar de dentro da condição climática absurda. Flow é diferente e simples, com uma técnica sonora única. Sensorial e vibrante. É mesmo um filme para ser sentido.
“Como um gato, sei que ficarei de pé, todas as vezes que cair.” – José Gonzalez.