Quando Parasita de Bong Joon-Ho levou para casa a estatueta de Melhor Filme na cerimônia do Oscar 2020, ficando conhecido mundialmente como o primeiro filme de língua não inglesa a levar esse título, o mundo voltou seus olhos para a utópica vingança cinematográfica do proletariado em cima da burguesia. Aliás, Parasite não foi único filme lançado em 2019 que trouxe para as grandes telas de cinema uma temática que incomode a elite, uma vez que Bacurau (se for vá na paz) de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles é literalmente de matar (Desculpem o trocadilho, rs). Bacurau é a reparação histórica de Canudos e nada me tira da cabeça mas… seguindo o raciocínio, o cinema em 2019 sustentou obras não só surpreendentes enquanto querendo ou não, inovadoras.
Não é de hoje que filmes estrangeiros têm dominado a Netflix, uma vez que várias produções que bombam no exterior, em festivais especializados por toda a Europa, estão disponíveis no canal. O Poço chamou a atenção quando foi exibido no Festival de Toronto em 2019, chamando a atenção da Netflix, que se comprometeu em distribuir o longa-metragem. Eu cheguei até a ver alguns comentários comparando o filme dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia (novato no cargo) com o chocante A Serbian Film, uma das obras mais impactantes já lançadas nos últimos anos. Particularmente, achei um pouco exagerada devido à forma como o filme sérvio pega muito mais pesado quando se trata em deixar a gente com dor de cabeça (estilei, mesmo! talkey?). Porém, reconheço que essa comparação tem certo fundamento.
Na história nós temos um homem considerado um idealista que opta por participar de um experimento: passar seis meses em uma prisão vertical, ganhando um certificado por participação. Lá dentro, ele testemunha situações que vão desafiar sua sanidade mental e o fazer refletir sobre o que o ser humano é capaz de fazer nas piores situações. O tal “poço” é por onde passa uma plataforma repleta de comida (o suficiente para todos), que vai descendo do nível 0 até os últimos (mais de duzentos) e os detentos vão comendo, os debaixo se alimentando dos restos que os que estão nos níveis superiores deixaram. Isso só ocorre uma vez por dia, e não demora para o protagonista perceber o que há de errado ali, passando a lutar para desafiar o sistema. Ah! E eles são movidos de pavimento em uma espécie de rodízio após um mês, podendo estar lá em cima, ou literalmente nas últimas!
Assistir a El Hoyo nas atuais circunstâncias – a pandemia do coronavirus que estamos enfrentando – é mesmo um desafio e tanto, porém é uma experiência válida! Ele é um filme que choca, e muito! Porém, a intenção de toda aquela bizarrice é mostrar o quão bárbaro é o ser humano, e o que o homem é capaz de fazer quando está diante dos seus medos mais primitivos. Sombrio, não é?!
Mas é a realidade, meu povo! Esse é um daqueles filmes feitos para boi acordar, cheio de referências políticas ou até mesmo religiosas. Têm para todos os gostos, no fim das contas – seja para quem busca um filme superficial com uma luta desesperada para a sobrevivência, ou para aqueles que buscam desviar as várias camadas dos filmes que assistem, e aqui têm várias. Dito isso, gostaria de afirmar que o final aqui vai deixar muita gente com mais perguntas do que respostas, e isso é de forma proposital. Sobram também críticas ao capitalismo e a forma como esses sistemas – na prática – costumam jogar gasolina na fogueira, sendo capazes de manipular as pessoas, que vêm seus ideais mudarem da noite para o dia.
Outras interpretações sugerem que o que temos aqui talvez seja uma ilustração do trabalho de Dante Aleghieri em A Divina Comédia, onde o tal presídio seria o Inferno, e cada pavimento seria um dos ciclos desse lugar, à medida que vai se aproximando dos últimos andares – ou ciclos inferiores – a coisa vai piorando.
uma análise mais aprofundada dos personagens, segue o @Acríticadelas no Instagram, que lá tem uma análise mais
completa.
linha dos anteriores e seu sucesso em meio a um tempo tão angustiante. Angústia
essa presente em várias cenas,mais uma vez o capitalismo, quando
na troca de níveis, o egoísmo humano e as condições dos menos privilegiados é
colocada em pauta em citadas aqui 3 obras diferentes. Seria um grito (ACORDEM!) que o cinema está dando para seus telespectadores? Ou seria uma jogada midiática
perfeita para tempos extremos?
estão quase todos em quarentena, e a Netflix é um streaming pago, e o filme em
menos de uma semana de lançamento já é um sucesso, mas será que tiveram pessoas
que ficaram fora dessa?Será que dá pra falar em “sucesso”, quando numa época de
desigualdade social latente, uma obra lançada por um streaming pago não chega a
todos? A mesma obra que faz uma crítica ao egoísmo humano é a mesma que foi
lançada no circuito comercial dentro de uma plataforma paga. Ninguém te avisou, meus caros leitores, que
ia ser tão difícil essa aventura que é viver, aventura para uns, em suas mansões
de quarentena, porém desventuras para outros em lares temporários doados pela
prefeitura.
renda e sua bela reflexão da atualidade: Não estamos no mesmo barco,estamos no
mesmo mar,mas uns em iates e outros agarrados em troncos.
que vocês acreditam, lavem as mãos e se possível #fiquememcasa.