Don’t Look Up é o mais novo longa da série de originais da Netflix. Um filme que chega com um elenco de peso, e cheio de discussões que abarcam bem os tempos em que vivemos hoje: De negacionismo, fraca liderança política e indiferença com as coisas que podem, aos poucos e aos muitos, acabar com a vida no planeta terra.
Na verdade, Don’t Look Up não precisa nem fazer tanto esforço pra nos mostrar o buraco em que nos encontramos. Com um plot mais do que simples, somos convidados a acompanhar dois astrônomos comuns – Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) e Randall Mindy (Leonardo DiCaprio), de uma equipe comum, que descobrem um cometa, aproximando-se cada vez mais da terra. O detalhe é que, pelo tamanho colossal do meteorito, dentro de poucos meses, se não destruído, acabará com a existência humana e não-humana na terra. Acontecerá a extinção em massa. Eles então agora devem recorrer às lideranças dos Estados Unidos, imprensa e qualquer forma de fazer com que a informação se espalhe o mais rápido possível, e que seja relevante o suficiente para que algo seja feito… Antes que seja tarde demais.
É aqui que digo que Don’t Look Up nem precisa fazer esforços para que a mensagem seja transmitida. Na verdade, de tão absurda que é a indiferença das lideranças do mundo (sobretudo dos Estados Unidos) em relação a assuntos tão importantes como uma catástrofe global, e no caso – a extinção humana, poderíamos até pensar: “Nossa, que filme exagerado. Isso jamais aconteceria de verdade”. É tão exagerado, que parece satírico demais. Irônico demais… Se não fosse o que viemos acompanhando nos últimos dois anos, acontecendo na vida real, aqui em nossa terra real.
Dois anos de pandemia global com a COVID-19, o Coronavírus. Uma pandemia que, é claro, matou milhões – e continua matando – mas que nem cabe em si mesma; uma pandemia que causa desemprego, portanto fome, portanto insegurança alimentar, portanto pobreza extrema, portanto mais mortes, e assim por diante. É um absurdo, mas um absurdo tratado com indiferença. Com desdém, e até com esquecimento, como se a pandemia fosse algo do passado. O que é comum, uma vez que todas as vezes que uma doença deixa de matar uma classe mais rica, deixa de ser perigosa e importante. Enquanto afetar apenas a pobreza do mundo, é aceitável.
E falo isso sem, é claro, considerar também as mudanças climáticas de nosso globo, que também decretam, a cada dia que passa, o “fim dos tempos”. Entretanto, também não importa – pelo menos agora. Como é um assunto difícil, chato, e ruim de conversar, os governos e a mídia pouco se importam em falar dos danos irreversíveis que os seres humanos vêm causando nos últimos tempos, no planeta terra. Na realidade, segundo o relatório do IPCC – O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas deste ano, pela primeira vez em toda história está constatado que a principal culpa do aquecimento global é humano. Das grandes empresas do agronegócio, o mercado do veneno – que são injetadas pelo governo federal. Mas “não olhe para cima.” Não importa. Não é relevante.
Don’t Look Up veio jogar algumas verdades de volta em nós mesmos, e ainda que pareça que a mensagem é absurda demais, exagerada demais, a realidade também é. Um filme que nos mostra como faz falta uma mídia que verdadeiramente denuncie, e acompanhe assuntos que perpassem o que está “trending”, os assuntos mais falados do dia. Mostra também a falta que faz um governo que esteja disposto a lutar – de forma genérica apresentada no filme, pelo povo – mas na vida real, pelos mais pobres e os excluídos de nossa sociedade. De negacionismo em negacionismo, seja na ficção ou no mundo real, o mundo vai cada vez mais se encaminhando para o extermínio – da raça humana, ou daqueles menos favorecidos… Mas não olhe para cima.