Fala, meu povo! As séries da Marvel em parceria com a Netflix vêm tido cancelamentos, começando por Punho de Ferro e, logo em seguida, Luke Cage. No entanto, a série cancelada que mais impactou os fãs foi Demolidor, que apresentava altos índices de audiência para a Netflix e teve uma recente terceira temporada extremamente satisfatória. Sobre esse último ano do Homem Sem Medo no serviço de streaming, é necessário dizer que manteve a qualidade das temporadas anteriores e acrescentou novos elementos à “mitologia”.
Daredevil estreou na Netflix em 2015, seguindo por Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro, sendo entregue em 2017 o crossover Os Defensores, que uniu esses “heróis urbanos”, se passando no mesmo mundo dos filmes da Marvel. De todas essas séries, Demolidor e Jessica Jones se apresentaram como as mais promissoras, com a primeira mantendo seu nível ao longo das temporadas, gerando até O Justiceiro, série que pode ser considerada um spin-off. O big-bang desse “universo” é a série do vigilante mascarado de Hell’s Kitchen, alter-ego do advogado cego Matt Murdock, que retorna para mais uma temporada de qualidade.
A trama dessa terceira temporada começa alguns meses após Defenders, após a revelação de que Matt Murdock (Charlie Cox) havia sobrevivido ao desabamento do prédio, estando sob cuidados da equipe do orfanato católico onde cresceu. Durante seu processo de recuperação, seu arqui-inimigo Wilson Fisk (Vicent D’onofrio) faz um acordo com o FBI e sai da prisão, fazendo com que Murdock volte à ativa como Demolidor, proteger seus amigos Karen Page (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden Henson) e impedir que mais mortes aconteçam, fazendo o que for necessário para impedir Fisk de uma vez por todas.
Esse novo (e último?) ano é claramente inspirado no arco “A queda de Murdock” das HQs, trazendo muitas referências à obra de Frank Miller e David Mazzucchelli, com o protagonista Matt Murdock/Demolidor lidando com a situação mais complicada de sua vida, graças a acontecimentos que culminaram em novos traumas. Se a gente consegue sentir o que o herói enfrenta e torcer para que ele supere os obstáculos, isso se deve à grande atuação de Charlie Cox, que entrega um personagem cujas ações são motivadas mais pelo impulso do que pela razão, mas ainda consegue nossa compreensão. É evidente que o Demolidor está numa pior, e que sair dessa sem ficar marcado não será fácil, e ao longo dos 13 episódios, testemunhamos as etapas que o protagonista passa, até chegar ao grande confronto com Wilson Fisk.
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Apesar de nosso protagonista ser o rosto da série e ser um ótimo personagem, são três nomes que roubam a cena nesse terceiro ano: Karen Page, Benjamin Poindexter e Wilson Fisk. A primeira foi um ponto forte em todas as temporadas – até mesmo na série do Justiceiro, onde ela faz uma participação – mas aqui os roteiristas, diretores e a atriz Deborah Ann Woll permitem que o público tenha uma conexão mais forte com a personagem, ao conhecemos seu passado misterioso e conturbado através de um flashback, e acompanharmos seus movimentos no presente. Ela age sozinha e também auxilia Foggy Nelson com intuito de deter Fisk de acordo com a lei, mas sua ligação com o vilão permite que ela dê tudo de si nessa temporada. Assim, Woll interpreta magistralmente uma personagem complexa cujas ações determinam parte do rumo que a história irá seguir.
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A maior novidade da série, na minha opinião, está no lado dos vilões. Wilson Bethel interpreta o agente do FBI Ben ‘Mercenário’ Poindexter de forma brilhante, sendo um personagem que tem uma crescente incrível dentro da trama. Ele começa aparecendo de forma contida, mas já demonstrando sua força, e a forma como ele evolui ao longo da temporada foi impressionante. Para quem só conhece o Mercenário por meio da adaptação de Demolidor para os cinemas de 2003, onde o vilão foi vivido por Colin Farrell, é bom saber que essa versão do Bethel é mais próxima das HQs, apesar de ser considerada uma ‘história de origem’ para o personagem. Os elementos clássicos – sua mira certeira e grande habilidade de combate corpo a corpo – estão lá, assim como uma escolha certeira do ator, que mostra de forma natural o quão conturbada é a mente do agente Poindexter, um vilão imprevisível.
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Ainda assim, não tem jeito! Quem de fato rouba a cena é Vicent D’onofrio como Wilson Fisk (que é chamado de Rei do Crime pela primeira vez). Ele atualmente já é considerado um dos maiores vilões da Marvel como um todo, juntamente a Loki, Killmonger, Thanos e outros vilões do cinema. Quando se achava que o personagem não tinha mais como evoluir, o ator mostra de forma magnífica que isso foi possível, por meio de uma trama que faz conexão direta com o final da 1ª temporada, e ao mesmo tempo se aproxima mais do Rei do Crime dos quadrinhos e animações, com uma adaptação que humaniza ainda mais o personagem. Ele não irá medir esforços até ver Murdock e seus colegas mortos. Atuação memorável e monstruosa!
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No entanto, existem os tradicionais problemas de temporada, algo que prejudica muitas séries famosas. Aqui, existem alguns episódios que poderiam ser reduzidos – especialmente os três primeiros – e algumas sub-tramas poderiam durar menos, como a do agente Ray Nadeem (Jay Ali). É um personagem interessante, e seu ponto de vista no FBI – mostrando detalhes da operação e suas ações questionáveis – é bem explorado, mas sua trama pessoal tornou-se muito esticada. Eu consegui sentir empatia por ele, mas o fato de o agente ser um mero coadjuvante não faz esperar muito dele até o final da história. Assim, isso acaba evidenciando uma pequena “saturação” na temporada, mas não tira seu brilho. O novo ano de Demolidor está recheado de cenas de ação empolgantes e muito bem elaboradas, com a já clássica violência +18 da série. Para mim, as duas melhores são a cena da prisão e o “confronto final”.
– Considerações finais
Dessa forma, temos aqui uma temporada de qualidade, mantendo o nível das anteriores mas focando mais no clima “pé no chão” da primeira, afastando-se da pegada sobrenatural da segunda. O fato de ter sido cancelada faz com que os últimos episódios sejam uma verdadeira despedida de Demolidor para os fãs, que encaram tudo com tristeza. O fato de ser um final previsível faz com que a lamentação seja ainda maior, visto que a temporada nos apresentou novos ingredientes para um futuro ainda mais promissor. Agora, só nos resta torcer para que o Demolidor e os demais personagens não sejam esquecidos pela Marvel Studios, pois foi uma temporada que terminou com aquele gostinho de “quero mais”
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