Agência de Investigações Holísticas de Dirk Gently foi lançado em 1987, seguido do livro A Longa e Sombria Hora do Chá da Alma, ambos contando a história de um detetive holístico, sobre o universo e tudo mais. Alguns dos principais elementos da trama surgiram quando Adams estava escrevendo Doctor Who.
Mas o que é algo holístico? Segundo o dicionário, a compreensão dos eventos de uma forma geral é algo holístico. O que torna o nome bastante irônico se a gente comparar com o Vórtice da perspectiva total – uma máquina que prova que ninguém jamais entenderá a total dimensão das coisas porque o universo é estupidamente grande – criada pelo próprio Adams. Adaptar uma história escrita pelo Douglas nunca foi uma tarefa fácil, entretanto, Max Landis parece ter conseguido ter tido um êxito surpreendente.
Lançada em 2016, a série conta história de Dirk Gently (Samuel Barnett), um detetive que resolve casos apenas com o poder de compreender o destino e o caos dos eventos no universo. Isso em teoria. Na prática, parece que Sherlock Holmes e Douglas Adams comeram cogumelos alucinógenos enquanto escreviam o roteiro de cabeça para baixo. É necessário ter um pouco de paciência no início, admito, mas depois eu prometo a você, tudo fará sentido (dentro da sua cabeça, no caso, porque tenho dúvidas se a série foi escrita para ter de fato um sentido). Na tentativa de resolver seus casos, Dirk mexe com vida de várias pessoas. Entre elas, Todd e Amanda Brotzman, compelidos a ficar na confusão pelas intervenções do universo. E a viagem é longa, passamos por vampiros de energia, seitas, máquina do tempo, reinos encantados, assassinatos e tesouras gigantes. E não direi nada além disso. O que mais me chamou atenção foi a sensação de desapego que eu tive ao assistir a série.
Falando bem sério agora. A existência humana é estranha e complicada. Há alguns milhares de anos nós nos tornamos conscientes de que estamos em um lugar bizarro. A não muito tempo atrás achávamos que nosso planeta era único, singular e feito para nós. Mas, à medida que fomos ‘crescendo’ nossa inteligência coletiva, aprendemos que estamos presos em uma rocha, que orbita uma medíocre estrela na periferia de uma galáxia da qual nunca vamos sair. Claustrofóbico? Talvez. Mas o fato de termos que lidar com acontecimentos que estão completamente fora do nosso controle nos causa ainda mais ansiedade. E é essa ansiedade que simplesmente desapareceu quando eu assisti a série.
E isso é um fenômeno que acontece em obras do Douglas Adams. O fato de nada fazer sentido ser tratado como natural faz com que a gente se identifique um pouco. Douglas não explica os eventos do livro, nem a série está disposta a elucidar os poderes do Dirk Gently. Eles funcionam e fazem parte da narrativa. Só isso. Ter o não controle do que está acontecendo simplesmente não é um opção na trama. Os personagens estão constantemente confusos, perguntando o que diabos está acontecendo e como sair daquela situação. O alívio em saber que não é só o telespectador que se encontra confuso é reconfortante.
O absurdo dos elementos da série, é proposital sem dúvida. Estamos falando do autor que transformou dois mísseis teleguiados em um vaso de plantas e uma baleia cachalote. Isso só prova que passamos cada segundo das nossas vida atribuindo significado a coisas que podem ser completamente desconexas entre si, o que pode ser bem útil e nos atribuir certo conforto, mas não necessariamente representa como o universo funciona.
Ciência, religião, leis ajudam a organizar todo esse caos e às vezes a gente tem a falsa sensação de controle, mas não sabemos se nossa consciência é real, ou nossas almas e o que nós somos e do porquê estamos aqui. Olhando bem de perto, bem de perto mesmo, você é só monte de pontinhos embasados vibrantes no lugar vertiginosamente grande. E tudo bem ser assim. Não entre em pânico. Não vale a pena.
P.S. Essa série foi cancelada, mas quem liga? É quase ainda mais uma piada para a série. Ainda assim, continua sendo uma incrível série.
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