Hoje vamos falar de um assunto quase apagado da história cinematográfica brasileira; uns acham que manchou o cinema nacional, outras tiveram suas carreiras destruídas e polemizadas, não por conta dos filmes, mas sim, pela censura. Tirem os conservadores da sala… Vamos falar sobre: A pornochanchada.
A vergonha nacional que se instaurou (até hoje) entorno da pornochanchada nos faz ter que esclarecer o que de fato é este gênero cinematográfico e a crise de imagem que esta repercussão ruim causou. Mas primeiro, imagine comigo: E se existisse um gênero originário do cinema brasileiro, e um lugar, onde você pudesse aprender as diversas áreas do cinema, e produzir filmes? Porém os longas-metragens utilizariam cenas de nudez, sexo e diálogos com humor, você poderia me dizer que não é algo não muito longe de um American Pie por exemplo, e eu te pergunto: Se o Estados Unidos tem o Porky´s- A Casa do Amor e Riso (1982), porque o Brasil não pode ter a pornochanchada?
O governo civil militar brasileiro criou uma lei para estimular e proteger a produção nacional, foi com este espaço que o cinema marginal surge (1968) para criar filmes de aspectos violentos (as vezes semelhantes aos estrangeiros) que abrangiam uma parte da população, parte esta que se identificava com produções similares as estrangeiras e viviam uma sociedade a margem, entre a elite e a massa. Então “se o de cima sobe, e o de baixo desce”, qual gênero falaria com essa população a baixo? Foi assim que na década de 70 o audiovisual que nasceu num local chamado Boca do Lixo no centro de São Paulo, produziu um cinema popular, de baixo custo, alta rentabilidade, autonomia feminina e o conservadorismo promoveu o apagamento destas mulheres.
Por ser difícil falar em liberdade, erotismo e mulheres ao mesmo tempo, que as atrizes Nicole Puzzi e Helena Ramos tiveram suas carreiras esquecidas na memória do audiovisual brasileiro, e são atreladas a pornografia, o que não condiz com as suas produções, a pornochanchada trazia temas relevantes ao cinema, tais como: o submundo da prostituição, adultério, racismo e mais.
Contudo, o conservadorismo passou a ver como lixo cultural e arrastou junto a crise econômica, a imagem destas, Helena Ramos por exemplo, deixou as produções por causa da nudez cada vez mais exigida por diretores homens em prol da abertura que o mercado promoveu com a liberação de filmes estrangeiros no país. Nicole Puzzi, em entrevista ao Rotanews, afirma que depois da época de 90 não fazia novela porque atores se recusavam a contracenar com ela por seu passado cinematográfico, ato que não aconteceu com José Wilker por exemplo, um dos atores que já fora parceiro de cena de Nicole em O Bom Burguês (1983).
A crise de imagem gerada encima do gênero cinematográfico pornochanchada, causou um desmonte não só na historicidade do cinema brasileiro e no não reconhecimento desse gênero originário como patrimônio do audiovisual, como também afetou diretamente a carreira destas mulheres citadas e outras, que foram censuradas pelo machismo e o conservadorismo.
Essa série é chamada crise de imagem, as protagonistas de hoje são:
Filme Ariella (1980) protagonizado por Nicole Puzzi e Christiane Torloni