Existem cineastas e produtoras que o cinema brasileiro não coroou, nem exaltou. O extermínio no audiovisual das mulheres faz com que suas produções não sejam vistas, nem lembradas. Para falar de feminismo no cinema brasileiro, precisamos voltar a época da ditadura e entender como a censura ocasionou um apagamento na carreira de realizadoras como Vera de Figueiredo e Ana Carolina.
O vazio de referências proveniente da herança ditatorial fez com que Vera de Figueiredo, a autora de um dos primeiros filmes feministas nacionais, nem se quer esteja na Enciclopédia do Cinema Brasileiro. Feminino Plural (1975) uma obra que gira em torno de sete mulheres, obteve uma censura de 18 anos, e Vera, diretora e roteirista de uma obra estético-política na década de 70, não tem (até hoje) o seu devido reconhecimento.
Retomando a série de textos “A ditadura e Elas”, você deve lembrar de Tereza Trautman. Tereza e Vera, ambas ao representar figuras femininas independentes no cinema, tiveram suas carreiras interditadas. Isto não te diz algo? Com a repressão era preciso sair pela tangente, usando alegorias e ironias (talvez este seja o segredo da vida), foi assim que Ana Carolina chegou aos cinemas com a sua trilogia sobre a condição feminina disfarçada de crítica ao regime da época.
A realizadora que aos 32 anos chegava aos cinema com a obra: Mar de Rosas(1977), misturando feminismo com ditadura, num misto de infância da cineasta versus em suas palavras para a revista Veja, um Brasil ” sonso” , conta com personagens que tinham roteiros clichês reunidos pelo clima de opressão. Mas Ana Carolina vai além da crítica, ela coloca sua obra em outro patamar ao dizer sobre o olhar masculino para uma menina (criança) tornando liberdade da mesma era confundida com anarquia, Ana Carolina deixa claro que a nossa emancipação também é política.
E ela leva essa mensagem até o final de sua trilogia, em 1982, com Das Tripas Coração, reunindo a fase da adolescência e implicitamente mostrando a educação moral e cívica da ditadura, Ana Carolina trás uma nova geração de mulheres, agentes do seu próprio destino, e que não recebem ordens. Em Sonho de Valsa (1987) ela trás o pensamento conservador a cena, neste momento, ela já flertava com o Cinema Novo e movimentos feministas Europeus.
Ainda que Ana Carolina seja bem mais sucedida em termos de visibilidade diante de Vera de Figueiredo, ela não tem a mesma repercussão como Cacá Diegues e outros diretores homens da mesma época. Apagar da memória cinematográfica as produções destas realizadoras é propor um extermínio ás mulheres, como sempre foi visto na história.