Para uma trama com um potencial dramático tão grande, é impressionante a má execução de Emilia Pérez, que afoga as possibilidades e os fios condutores em maus desenvolvimentos de personagem. Emilia Pérez. Tudo que poderia ter sido.
“Rita trabalha em um escritório de advocacia mais interessado em lavar dinheiro do que em servir a lei. Para sobreviver, ela ajuda um chefe do cartel a sair do negócio para que ela possa finalmente se tornar a mulher que sempre sonhou ser.”
Sinopse de Emilia Pérez
Emilia Pérez é um dos filmes que mais figurou em indicações aos Oscars, e com isso levantou discussões importantes sobre os motivos pelos quais foi indicado. Um filme de Jacques Audiard, francês, que busca em uma construção esquisita, (não) por falta de outras palavras, imaginar uma trama policial e de cartel, num México imaginário. Conta com a atuação de Zoë Saldaña, e Karla Sofía Gascón – fantásticas em seus papéis, apesar do filme. E Selena Gomez. Um filme que tenta ser uma comédia, um drama e um musical, enquanto sofre parceladamente para tentar executar quaisquer parcelas juntas.
Para uma trama com um potencial dramático tão grande, é impressionante a má execução de Emilia Perez, que afoga as possibilidades e os fios condutores em maus desenvolvimentos de personagem. Também impressiona a forma que o filme tenta, por caminhos tortos, insinuar que através da redesignação sexual, nasce uma Emilia totalmente desconectada dos crimes cometidos por ela, enquanto ainda membro do Cartel. Como se isto fosse o que resolvesse todos os problemas dela.
O gênero “comédia” do filme parece puramente acidental. Um erro, pelo simplismo das músicas que as torna cômicas e repetitivas (rimando pato com patinho; ela com ela; cansado com cansadinho...) – para não falar nem dos estereótipos, verdadeiramente impregnados no filme, que reaparecem de repente para te lembrar de que é isso mesmo: uma caricatura, um imaginário do parecer ser, e não do que realmente é.
Não que eu esperasse algo de Emilia Pérez. Mas decepciona até as menores das expectativas. Dos cenários escuros ao vazio das cenas; dos diálogos repetitivos ao espanenglish sem sentido algum – que não permitir que atores e atrizes que mal falam espanhol possam fazer parte da cultura mexicana.
Até aqui, nem falei da trama “principal”, da advogada criminal Rita, que corre atrás de todos os processos de Emilia, como uma secretária pessoal. “Engraçado” como desde o princípio a única coisa que queria ter era seu reconhecimento pelos trabalhos que faz. Esse momento nunca vem, mesmo que o filme tente te convencer que ela ganhou, que acertou; termina como começa: a eterna secretária Rita.
Emilia Pérez. Tudo que poderia ter sido.
Em resumo, Emilia Pérez poderia ter sido um drama forte, marcado pelas transições de caráter ou sexo da personagem principal; poderia ter sido uma comédia do absurdo, com todo o plot da advogada, da criminalidade; poderia ter sido um musical, se aproveitando das vozes que chamou para atuar. Poderia. Não foi.