A trama de O Animal Cordial se passa em um restaurante localizado em uma área isolada da cidade que é comandado por Inácio (Murilo Benício), que é obcecado pelo estabelecimento. Na sua equipe, está Sara (Luciana Paes) e o cozinheiro Djair (Irandhir Santos), com quem tem constantes conflitos. Já fora do horário de atendimento, o local é invadido por dois ladrões, que ameaçam os clientes e os funcionários. Agora, absolutamente todos correm perigo. Isso serve apenas de pretexto para um filme cheio de reviravoltas.
Eu sei o que você pode estar pensando: que esse é mais um filme sobre sequestro e refém, onde todos devem lutar para sobreviver. De fato, a trama base do filme é essa, até sermos apresentados às muitas camadas de O Animal Cordial. Ainda que tenha uns clichês espalhados e algumas situações um tanto mal explicadas, esse filme é tenso até a tampa, e a qualidade como foi produzido faz toda diferença. O fato de ser um filme nacional nos deixa ainda mais orgulhosos do resultado final.
Visualmente, o filme se passa inteiramente dentro do restaurante de Inácio, e somos logo apresentados ao estabelecimento completo, explorando todos os cômodos, o que ajuda o espectador a se situar melhor. O que falar da trilha sonora composta por Rafael Cavalcanti? Simplesmente demais! Não espere encontrar jumpscares nesse filme, uma vez que a trilha sonora – sufocante e claustrofóbica – auxilia o clima tenso da história, num esquema bem parecido com o que a gente viu com A Bruxa (2016).
Por falar no filme de Robert Eggers, um dos seus produtores, o Rodrigo Teixeira também trabalha em O Animal Cordial, o que explica algumas influências que a gente nota no decorrer da história. Com isso, automaticamente, vem também uma parcela do público que não vai curtir o filme, uma vez que os personagens não agem de forma, digamos… muito racional. Alguns deles inclusive estão constantemente fora de si. Ninguém confia em ninguém e o clima de tensão está presente o tempo inteiro. Definitivamente não é um filme comercial.
A diretora Gabriela Amaral Almeida, que também escreve o roteiro foi muito sabia conduzindo essa trama, desde ao posicionamento de sua câmera, em um único cenário: o restaurante; até na direção de atores. Seu roteiro é bem realista, fazendo com que a gente enxergue o dilema dos personagens, permitindo que a gente se identifique com alguns deles. Porém, assim como temos bons personagens que torcemos por eles, outros não dão sorte e não convencem tanto.
É verdade que alguns membros do elenco deixam um pouco a desejar, como é o caso de Humberto Carrão, mas no geral todos estão muito bem. Camila Morgado começa com um arco bem impactante, e a gente vê a personagem passando por maus bocados, mas em certo ponto é repentinamente escanteada; Luciana Paes (de 3%, da Netflix) tem uma boa personagem, com atitudes imprevisíveis; Irandhir Santos como sempre rouba a cena, um personagem bem legal que rende bons momentos; Murilo Benício também manda bem interpretando esse dono do estabelecimento que faz o tipo patrão explorador, chegando a ser um sociopata. Em alguns momentos a atuação de Benício pode parecer caricata, mas o clima pesado do filme de Gabriela Amaral Almeida convence o espectador a acreditar que seu personagem é capaz de atos estarrecedores. É só lembrar que é um filme de horror, onde alguns absurdos são inseridos para deixar o público mais chocado.
Algo que definitivamente me surpreendeu é que o filme é bem violento. Não fica devendo nada aos filmes do ‘torture porn’ norte-americano que estamos acostumados a acompanhar por aí. É possível notar também algumas metáforas, como as paredes vermelhas do restaurante, fazendo alusão ao derramamento de sangue. Porém, o filme também tem uns problemas, e o principal está no seu ritmo. É verdade que, quando o bicho começa a pegar, o filme quase não dá descanso ao espectador, mas tem uns momentos que a diretora deixa a peteca cair, e algumas cenas aparentemente simples duram mais do que o necessário. Alguns diálogos entre os personagens também são bem genéricos, tornando previsível a função que cada um deles vai ter na trama de O Animal Cordial. Mas, não desanime, pois isso não prejudica a sua experiência.
– Considerações Finais:
No geral, adorei o filme! É prato cheio para quem curte filmes de terror violentos e uma história intrigante. Sei que muita gente pode não curtir esse filme por não ser tão convencional, mas sugiro que você dê uma chance a O Animal Cordial, um filme que dá um verdadeiro soco no estômago de quem tem preconceito com as produções nacionais.
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