Mulan nunca se propôs a ser um filme feminista, nem o de 1998, nem o de 2020. A quebra na narrativa das princesas da Disney foi o que tornou Mulan uma princesa inspiradora para muitas meninas. Há mudanças significativas no live-action, mas a releitura de como o patriarcado trata as mulheres há anos e culturalmente em Mulan(2020), essa não muda.
As palavras de Bori Khan (o vilão) para a bruxa Xianning, em que ele a compara com um cão e fala “aquele cão terá um lar”, denunciam que neste filme continuaremos assistindo diálogos que não mudam desde 1998, mas a consciência do telespectador mudou (espero). Eu por exemplo, não acredito que no live-action teve rivalidade feminina. Xianning é colocada como bruxa numa posição em que os homens tinham medo – e é nítido este medo no filme; Ela é escanteada pela sociedade exatamente por ser uma bruxa (o que diz muito sobre o tratamento com algumas mulheres); e ainda assim, ela e Mulan por muitas vezes se tornam parecidas na obra.
Mulan queria ser uma guerreira, Xianning também, e as duas ao longo do filme, percebem que num império de homens, é preciso exigir o seu espaço. É sobre representatividade, mas há um longo caminho ainda, se na animação tínhamos dois diretores homens brancos, o live-action teve alguns acertos mas a diretora é neozelandesa. Além de que a Disney precisa pensar além da sua visão norte americana, uma vez que já estamos em 2020, e o filme poderia deixar de ser em idioma inglês.
É preciso cobrar mudanças das produções, em Mulan(2020) não tivemos um casamento como desfecho e final feliz; Honghui aparece para intervir sobre a importância do papel de Mulan assim como na animação, mas não ofusca a protagonista. O que mantem o filme é o legado de uma princesa que se tornou guerreira, ensinou uma geração e ressurgiu em 2020, como uma fênix.