Nesta semana do Dia Mundial do Rock, relembrando as origens desse gênero tão potente e contagiante, viemos falar sobre a grande criadora e influenciadora do Rock: Sister Rosetta, uma mulher negra queer que leva à guitarra elétrica o fervor de seus louvores a Deus e aos prazeres de sua época. Sim! O Rock é negro.
De Miranda Lambert até Bob Dylan, passando por Elvis, Sister Rosetta permeia o gênero do Rock! Todas e todos são influenciados pela guitarra pulsante, a energia e sonorização de Sister Rosetta, que com seus solos e riffs, construiu as bases necessárias para a consolidação do Rock como conhecemos.
Rock & Negritude: Sister Rosetta Tharpe
Nascida Rosetta Nubin, Sister Rosetta Tharpe era descrita e categorizada como uma cantora e instrumentista gospel. Sua música se tornou popular nos EUA ainda nos anos 1940, antes do surgimento “oficial” do que seria descrito como Rock n’ Roll. A verdade é que, assim como poucos conhecem a obra de Blind Willie Johnson (Blues), Moacir Santos (Jazzista pernambucano) e Big Mama Thornton (R&B), poucos conhecem e reconhecem Sister Rosetta Tharpe como formuladora do gênero. Mas uma marca junta todas e todos: a linha de cor, que apaga e oblitera a existência material e simbólica, a linha que tenta calar.
Nossa Sister Tharpe amalgamou suas influências musicais e raízes da diáspora forçada ao sistema colonial de produção, sendo uma das primeiras guitarristas a usar uma distorção forte e rasgada no instrumento, propiciando a força do rock, a profundidade na voz e na interpretação, o ritmo sincopado, o Growling de uma voz marcadamente áspera e confortável, bela e potente, que pode ser ouvida desde o blues (como na clássica música de Blind Willie Johnson “Noby’s Fault But Mine”).
Os artistas que recebem a descrição de criadores do Rock sempre apontam para ela como grande e direta influência: não haveria Elvis, Chuck Berry , nem Johnny Cash, tão pouco Little Richard sem Rosetta – o próprio Little Richard costumava apontá-la como sua cantora preferida quando jovem.
Sister Rosetta Tharpe faleceu em 1973 em decorrência de um derrame e, em 2017, foi incluída, devidamente, no Hall da Fama do Rock como uma das influências fundadoras do gênero. Nasceu em 1915, na cidade Cotton Plant, ou “algodoeiro”, no Arkansas. Mas está aqui comigo e contigo! Seu corpo pode ter começado e terminado, mas ela permanece. No vibrar de cada nota que escutamos, no vibrar de cada pelo arrepiado pelo contato com sua música.
O capital e a supremacia branca acumularam sua força produtiva do seu corpo e de sua família, numa Plantation de algodão, passando inclusive pela captação de sua produção cultural. Mas o seu grito ecoa o sublime, sensível aos ouvidos dos seus: é como se uma grande força da natureza colidisse com a potência e o vigor de quem é pleno. Uma voz profunda e encorpada, que motiva os seus rumo à emancipação.