Inteligência(s) Artificiais, já deve ter notado a síndrome do Pinóquio em algum
personagem a base de bits e códigos. A história de Pinóquio já é conhecida: Um
boneco de madeira que quer se transformar em um menino de verdade. Bem simples.
No cinema quem parece ter começado com essa síndrome foi Steven Spielberg, com
o robô David no A.I. Aliás, sendo bem objetiva, Spielberg praticamente
atualizou o conto clássico do Pinóquio.
Hobby (Gepeto) para ter a capacidade de amar. Um casal resolve testá-lo na
ausência do seu filho de mesma idade, que sofre de uma doença rara. A trama
gira em torno da incapacidade dos pais de aceitar David como um menino de
verdade e da frustração que ele sente ao notar isso.
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Psicologias do Brasil |
Inteligências Artificiais estão cada vez mais elaborados. Entretanto, mesmo que
eles se mostrem explicitamente melhores e mais habilidosos que os humanos, eles
ainda sentem a necessidade de se tornarem um. Pensando no ponto de vista dos escritores de sci-fi, e com a
crescente evolução da tecnologia de imitação e reprodução da natureza que
adquirimos, nada mais previsível do que querer brincar de Deus.
consciência porque, consciência não existe.” Dr. Ford –
WestWorld
simulação da inteligência humana em situações específicas e pré-determinadas.
Surge a expressão Inteligência Artificial, que alguns autores atribuem a John
MacCarthy, após uma reunião de especialistas realizada em 1956 nos Estados
Unidos. Lembrando que em 60, os computadores vão aos poucos se tornando
populares no cinema e nas casa das pessoas. No começo dos anos 80, os japoneses
lançam o projeto de fabricação dos computadores de quinta geração, ou máquinas
dotadas de inteligência e que, muito embora não tenham alcançado o sucesso
pretendido, popularizaram o uso da linguagem de programação Prolog e
despertaram a atenção de todos para uma ciência, até então, desconsiderada
popularmente como Inteligência Artificial. A partir da década de 90
intensifica-se na prática, a utilização da Inteligência Artificial semelhante à
inteligência humana através da informática.
pode ser qualquer coisa que aparentemente simule ser inteligente ou que seja
inteligente de fato. Na mitologia grega, com a história de Pigmalião, que
moldou uma figura feminina de marfim, trazida à vida por Afrodite; na história
de Esparta, onde o ditador Nobis, em 200 a.C. dispunha de um robô que era seu
cobrador de impostos; no século XIII quando Alberto Magno fabricou um escravo
animado em tamanho natural; no mito do Golem de barro criado por um rabino do
século XVII; no século XIX através do monstro criado pelo Dr. Frankenstein.
Todas essas criadores se aproximando o máximo possível de nós. De certa forma,
essas narrativas sempre tentaram responder a pergunta: O que é ser humano?
“Nós estamos sofrendo pelos erros que eles [humanos] cometem porque
quando o fim chegar, tudo que restará seremos nós. É por isso que eles nos
odeiam.” I.A –
Inteligência Artificial
ser “menino de verdade”, até que através da magia de uma fada, e pela conscientização de seus
maus atos em função de grandes sofrimentos, Pinocchio tem seu pedido atendido
no fim da história, e torna-se um menino “de carne e osso”, obediente e amado
pelo seu pai. Embora a fada, que se assemelha à figura da mãe, pudesse
transformar o boneco a qualquer momento em menino, isso ocorreu apenas quando
Pinocchio amadureceu como ser. Deixando o natural egoísmo infantil de lado, ele
arrisca-se e consegue salvar o pai e o gato da barriga de uma baleia. Quando
deixa de pensar em si e age, conscientemente, em função do próximo, Pinocchio torna-se um ser humano.
nos contos clássicos de sci-fi. Em seu livro, Andróides sonham com ovelhas elétricas?, PKD diferencia androides e
humanos a partir do sentimento de empatia. Mas quando a máquina evolui ao ponto
de simular esse tipo de ‘sentimento’? E quando a própria distopia retira dos
humanos a capacidade de sentir compaixão pelo próximo? O que nos faz superior?
narrativas cujo tema trata da inteligência artificial são o termômetro para a
degradação humana. O homem artificial destaca-se do homem natural, em virtudes
morais. Com excessivo senso de superioridade à natureza, o homem torna-se minúsculo diante de sua própria
criação. E seu avançado intelecto ofusca a moralidade já atrofiada.”
(BALDESSIN, 2006)
escravo de um ser obviamente inferior a ele. A não ser que seja criada uma
superioridade falsa. É o caso dos
replicantes de Blade runner 2049.
é uma inteligência artificial escrava, que aparece em forma de holograma para
fazer companhia para seus usuários. Sua versão demo serve de isca para pessoas
solitárias – principalmente homens – e elas podem personalizar sua imagem como
quiser. Mas no geral, a Joi é programada para deixar seus usuários confortáveis
e satisfeitos. O replicante K, tem um relacionamento bastante profundo com sua
Joi. Ele é rejeitado por boa parte dos humanos – por ser replicante – e pelos
replicantes – já que o trabalho dele é matar replicantes. K se identifica muito
com a Joi pelo fato de nenhum dos dois serem reais (e de ambos serem escravos
sem poder de mudar a própria realidade).
Quando surge a suspeita de que K poderia
ser um homem nascido, Joi o apoia em tentar descobrir a verdade. O incentivo
dela sempre me intrigou. Será que a Joi estava fingindo? Será que ela era um
instrumento das indústrias Wallace para descobrir o paradeiro da criança
nascida? Talvez ela também tivesse a vontade de ser uma pessoa de “verdade” –
em uma cena ela contrata uma prostituta para simular um toque físico com K,
porque segundo ela, quer ser tão real para ele quanto ele é para ela. A
libertação de K parece ser a libertação da própria Joi, que não por
coincidência, se livra do seu invólucro-slide da sala de estar de K assim que
ele começa sua busca pela verdade.
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Wallpaper Abyss |
de Altered Carbon. O Hotel Corvo é controlado por Poe, uma I.A que personifica
o escritor Edgar Allan Poe. “É dele grande parte do alívio cômico, sua escolha
é clara por ser um dos pais dos contos policiais, mas esconde uma maravilhosa
contradição: Poe era obcecado com a morte, enquanto as pessoas no mundo de Altered Carbon são obcecadas com a vida
eterna.” (Tayna Abreu, 2018)
de Pinóquio, mantendo um hotel apenas para poder observar e fazer parte da vida
humana. Ele é até incompreendido por outras Inteligências que não entendem como
ele consegue tratar humanos de igual para igual, enquanto eles, se aproveitam
de seus vícios para aumentar suas fortunas.
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Papers.CO |
Claro, que nem todas os personagens I.A tem essa necessidade
de se igualar aos humanos. Samantha do filme Her, parece não conseguir manter
uma relação com seres humanos devido a nossa simplicidade, por exemplo. Mesmo
assim, é difícil fugir da vaidade de continuar produzindo seres
extraordinários, dotados de inteligência, semelhantes ao seres humanos. Citei
alguns porém, devem haver muitos outros exemplos, e sem dúvida, irão surgir
cada vez mais.
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