Esteticamente, um filme fantástico e sólido em sua estrutura – que parece imitar mesmo o todo que o filme nos apresenta; bruto, brutal, firme. Mas não é suficiente. O que faltou?
“O Brutalista se passa em 1947, quando o arquiteto visionário húngaro László Toth (Adrien Brody) e sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) fogem da Europa devastada pela guerra em busca de um novo começo na América. Em sua jornada para reconstruir seu legado e testemunhar o surgimento da América moderna, eles se deparam com uma oportunidade que pode mudar suas vidas para sempre.” – Sinopse Adoro Cinema.
O Brutalista, filme de Brady Corbet (Clouds of Sils Maria, 2014), com a fantástica atuação de Adrien Brody (László Tóth), Felicity Jones (Erzsébet Tóth) e Guy Pearce (Harrison Lee), é mais um dos dramas que está tomando conta das premiações internacionais que precedem os Oscars. The Brutalist nos apresenta personagens extremamente carregados desde o começo até o final, com seus vícios, traumas e cansaços. Perseguidos e indesejados nas terras que pisaram — tema que, à medida que o filme avança, cria feridas mais e mais profundas. Não importa o que façam, continuarão estrangeiros fora de seu país natal, ao passo que também não podem retornar, por conta da terrível guerra que os separou e expulsou.
Dito isso, um filme também “estranho”, (não) por falta de outra palavra. Toda a construção de uma Segunda Guerra Mundial e um judeu que constantemente se coloca acima de um estrangeiro; não por uma luta comum, mas por mesmo considerar-se superior, entre iguais e talvez até acima deles, no país para onde emigra.
E então me lembrei do constante tom de Anora, que fica ali brincando com o absurdo do dito e do não dito, para nos testar: até onde esticaríamos a corda moral? Até onde permitiríamos os absurdos ditos? Mas, diferente dele, O Brutalista não vem com o estilingue final, não há reparação ou autocrítica. Daqui, devo admitir: Seria isso um ponto positivo, para um filme tão realista, que me faz acreditar a história existiu? Ou um filme que não consegue – ele mesmo – se perceber um reprodutor daquilo que aflige Lázslo?
O Brutalista é grande o suficiente para abordar e atravessar diversos temas. Muitos, amplamente discutidos. O que não consegue — e já não consigo ignorar — é o tom superior, concretizado em nossa história mundial, de um povo que se coloca acima dos povos, sobretudo num contexto de guerra mundial (que controverso, que irônico). De um estrangeiro que, do início ao fim, pôs-se acima de outros iguais, que sofreram igual, humilhados igual.
The Brutalist. O que faltou?
É uma janela para dentro de um mundo hostil e familiar. De uma face dos EUA que vemos romantizada em tantos outros longas, através do cinema. Mas insiste em construir o diferente — em sua arquitetura e em seu roteiro. Obscurece o conhecido, escancara os venenos e vícios de uma América que não liberta, nem mesmo através do mérito.
Esteticamente, um filme sólido. Faltou algo.