Se você está lendo isso então você faz parte dos 53% de brasileiros que tem acesso a internet – ou os 44% da população mundial. Apesar de não parecer, a Internet é algo novo e ainda restrito. Mas, para quem tem acesso é quase impossível realizar atividades como, pagar contas, conversar com amigos, assistir filmes e séries e até mesmo trabalhar sem internet. O uso social da internet tomou proporções imensuráveis e os efeitos da rede agora afetam o mundo real. O mundo virtual é uma terra mágica que se transforma a cada ano desde de sua origem.
Antes da internet
O matemático, cansado de ver seus companheiros fracassarem, constrói em 1944 o Colossus, uma máquina capaz de decodificar as mensagens em 6 horas – muito melhor do que as 6 semanas do trabalho feito manualmente. Depois que a Guerra acabou o Colossus foi desmontado e inutilizado. As equipes que trabalhavam no Colossus se espalharam pela Europa e EUA dando início a projetos como o ENIAC (Electrical Numerical Integrator and Computer) em 1955. Considerado o primeiro computador eletrônico, o ENIAC tinha um pouco de memória e transmissor de dados. Era gigante, ocupava uma sala e servia para para computar trajetórias táticas que exigissem conhecimento substancial em matemática. Não deu tempo de usá-lo durante a guerra, mas, foi muito bem utilizado para calcular órbitas de satélites e foguetes na década de 60. Inclusive a Guerra fria – aquele conflito ideológico entre EUA e União Soviética – foi essencial para dar continuidade a esses projetos.
Com o lançamento do Sputnik em 1957, e quatro anos depois Yuri Gagari sendo primeiro homem a ir ao espaço, os EUA resolveram mudar a estratégia e criaram a Agência de Pesquisa e Projetos Avançados ou ARPA – um órgão científico e militar criado em 1957 que cuidava dos avanços tecnológicos da potência ocidental. A principal fornecedora de equipamentos de tecnologia era a IBM. A agência de defesa precisava de um método eficaz no qual os computadores pudessem “conversar” afim de resolver um problema mais rapidamente. Por causa disso, a Agência contratou J.C.R. Licklider para liderar as suas pesquisas através do “Information Processing Techniques Office”, IPTO, da Agência. Um dos sonhos de Licklider era uma rede de computadores que permitisse o trabalho cooperativo em grupos, mesmo que fossem integrados por pessoas geograficamente distantes. O projeto foi amadurecendo e adquiriu momento quando a ARPA contratou Lawrence Roberts , do Lincoln Lab do MIT, em 1967, para tornar a ideia uma realidade. Nesta mesma época Licklider, tendo saído da ARPA em 1964, assumiu a direção do Projeto MAC no MIT. Ainda assim, a comunicação era feita entre computadores militares nada parecido com a rede de computadores pessoais dos dias atuais. Muitos cientistas ao redor do mundo tentaram resolver o problema de como tornar a comunicação entre computadores mais eficiente. Entre eles o Inglês Donald Davies desenvolvedor da comutação de pacotes no laboratório de física em 1964. Em 1967 Lawrence Roberts anuncia a rede de computadores por comutação de pacotes. Os primeiros comutadores de pacotes ficaram conhecidos como IMPs (interface message processors), processadores de mensagens de interface, sendo fabricados pela empresa BBN. A partir dai explodiram uma série de pequenas “redes” como a ALOHAnet – rede de micro-ondas que conectava as ilhas do Havaí – a TELEnet – rede comercial de computadores com tecnologia baseada na da Arpanet – e a Transpac – rede francesa de comutação. Todas essas eram redes locais e tinham um problema: cada uma tinha uma linguagem própria. Por isso, a DARPA, agora responsável pela defesa dos EUA oficialmente, cria uma rede de redes baseadas numa criação de um protocolo, o TCP (transmission control protocol). Graças a ele, todas as redes falariam a mesma língua, não só para conectar PCs, como também conectar impressoras, discos, etc…
O BIG BANG da internet
Em 1990 apenas 300 mil computadores estavam conectados. Em 91 é lançado o hyperlink, que conectava as várias páginas da web. Em 92 a primeira transmissão de vídeo e áudio é feita através da rede, agora com 1 milhão de computadores conectados. Empresas de comida começam a receber pedidos via internet. Rádios fornecem sistema de streaming para sua programação. Em 95 haviam cerca de 120 mil computadores conectados no Brasil, no mundo essa marca ultrapassa os 10 milhões. Nesse mesmo ano nasce o sistema de busca Yahoo e no ano seguinte surge o acesso a banda larga. Nada tão impressionante, é claro, não passava dos 56 kbps. Ainda em 96, microsoft lança o seu navegador Explorer começando a guerra dos navegadores. Em 97, a IBM lança o Deep Blue, primeiro computador a vencer um humano no xadrez. Se você acha que tudo está acelerado demais darei um último dado: em 1998 é lançado o Google.
Internet de bolhas
A essa altura a Google já tinha planos de dominar todas as ferramentas sociais. Com a compra de pequenas e médias empresas nos anos seguintes, o Google, possuía vários serviços como: Blogger, Adsense, Orkut, Gmail, Google Earth, Google Talk, Analytics, Youtube, etc… A lista é longa e se estende ainda mais se pensarmos nas aquisições militares, espaciais e de engenheira robótica e genética. Mas o ponto é que, as redes sociais começaram a usar o método de algoritmos do Google. Aprendendo a cada clique, exibindo opiniões semelhantes, relacionando pessoas que talvez você conheça e filtrando o conteúdo do feed ou timeline de notícias. Com um riquíssimo banco de dados sobre seus usuários, essas empresas viram uma oportunidade de lucrar em cima dessas informações. Publicidades personalizadas ou remarketing começaram a ser usados pelo Facebook em 2012, mas , já existiam muito antes na Google.
A parceria do maior buscador do mundo e da maior rede social do mundo teve efeitos catastróficos na paciência de muitos usuários. Se você já pesquisou sobre poltronas no Google e quando entrou no Facebook tinha um anúncio de loja de poltronas, então você sabe do que eu estou falando. Hoje em dia esse tipo de personalização se estende para qualquer segmento, vai de gostos musicais até posições políticas. O algoritmo deixou de aprender com você e passou a te ensinar o que você deve ver. Além disso, as facilidades e subsídios que redes sociais como o Facebook e o Twitter possuem das empresas de telefonia móvel são gigantescas. Lembrando que ter acesso a internet ainda é custoso. Segundo dados do TIC apenas 102 milhões de brasileiros usam a internet. Desses 95% são de classe alta 82% para a classe B; 57% para a C, e 28% para a D/E. Ou seja, grande parte dos brasileiros utiliza a rede móvel dessas empresas de telefonia para terem acesso. E para os novos usuários – em sua maioria os que não tem acesso a banda larga – o Facebook é a própria internet. As facilidades para essas redes sociais causam desigualdade em relação a outras plataformas e a pluralidade do filtro da própria rede.
É como se a internet fosse uma cidade, o Facebook um grande shopping e seus algoritmos os vastos corredores sem janelas que te prendem lá dentro fazendo com que você perca a noção do tempo que gasta. E infelizmente, eu tenho que dizer, os shoppings estão se multiplicando na web. Os softwares pertencem as mesmas empresas de aplicativos de celular, que pertencem as empresas de rede sociais, que pertencem as empresas de fibra ótica e satélites geoestacionários e assim por diante. Precisamos ser críticos em relação ao conteúdo que recebemos online, saber por quantos e quais filtros passou aquela informação. A web em formato de rede dos anos 2000 vem se desfazendo e dando lugar a uma internet de bolhas e muros privados. E se você chegou até aqui eu proponho que precisamos mudar isso.
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