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fevereiro 24, 2022 por Mallu Oliveira 0

Capitalismo e Violência em Round 6

Capitalismo e Violência em Round 6
fevereiro 24, 2022 por Mallu Oliveira 0

Não consegui terminar de ver a primeira temporada da série Round 6 (2021). Depois do primeiro episódio e metade do segundo, cheguei a conclusão que não seria tragada por nenhum apelo narrativo, nem pelos seus personagens porque aos meus olhos eu só conseguia ver uma coisa: violência como espetáculo.

Antes de mais nada, gostaria de informar que este não se trata de um texto de análise. É apenas um comentário ancorado no que eu tenho visto e ouvido e principalmente no que me incomoda. Então vamos lá.

É claro que em parte eu já havia previsto parte do plot final, já que consumi há não muito tempo atrás a série Alice in Borderland (2020), além de outros produtos similares como a série de filmes Jogos Vorazes(2012–2015), Maze Runner (2014–2018), Circle (2015), Jogos Mortais (2004–2021). Entretanto, o curioso é que Round 6 me fez lembrar de outro produto de minha infância que assistia com meus pais sempre ao meio-dia na TV aberta: Bronca 24 horas com Cardinot da TV Jornal, emissora do Sistema Jornal do Commercio, em Pernambuco.

Cardinot, apresentador do antigo ‘Bronca Pesada’.

Punição em formato de espetáculo não é novidade para ninguém.

Se você não conhece eu explico. Bronca 24 horas é um programa jornalístico de estilo policialesco. O apresentador, na época Cardinot, apresentava as principais notícias relacionadas a assassinatos, roubos e mortes que aconteciam no estado. Corpos em sacos pretos, sangue, crimes hediondos e violação dos direitos humanos mais básicos capazes de deixar qualquer produção hollywoodiana no chinelo eram comuns. Mas, calma, o que é que isso tem haver com a série da Netflix? Vamos por partes.
Round Six, série da Netflix.

A punição em formato de espetáculo não é novidade para ninguém. Na civilização romana, haviam as penas-espetáculos Que submetia os criminosos a recintos repletos de animais selvagens ou, ainda, em uma cruel batalha corporal, das quais raríssimos permaneciam vivos. Tudo isso assistido pela população romana.

Com a queda da civilização romana e, por conseguinte, a chegada da Idade Média, o interesse da população pela punição de condenados continuou. Nesse tempo, as punições eram realizadas com fogueiras típicas da inquisição, que aglomeravam ao seu redor inúmeros espectadores (BITENCOURT, 2009, p. 30). Isso sem contar enforcamentos públicos, decapitações e crucificações.

Arte: Oleh Yolchiiev

Isso porque nessa época a punição de um crime era também uma espécie de vingança do governante(rei, imperador etc) quanto do Estado. O direito de julgar e punir era como um super poder e ele estendia-se indiretamente às plateias que testemunhavam seu acontecimento e que de certa forma pessoalizavam essa ‘vingança’ também.

“Todo malfeitor, atacando o direito social, torna-se, por seus crimes, rebelde e traidor da pátria; a conservação do Estado é então incompatível com a sua; um dos dois tem que perecer, e, quando se faz perecer o culpado, é menos como cidadão que como inimigo.” (Foucault, 1975 - Vigiar e Punir. pg 110)

Para melhorar ainda mais a história, “o que conhecemos como meios de comunicação de massa tem origem no mesmo período histórico em que a prisão se afirmou como instrumento de controle” (GOMES, 2015, p. 9). Só que dessa vez, esse instrumento de punição teria ares de imparcialidade - através do sistema científico-jurídico de acusação - e de correção do indivíduo. Dessa forma, a criação do crime-notícia se apresenta tanto como produto político quanto midiático.

O que é crime é bastante relativo

Complicou um pouquinho? Não vou entrar aqui na discussão sobre o papel social da prisão, então vamos pensar por partes. É papel do estado garantir a segurança de seus cidadãos. Entre algumas das formas de garantir isso estão os instrumentos repressivos como as prisões. Quem comete um crime, é preso, ou seja, tem os direitos(como direito de ir e vir, liberdade e privacidade) suspensos por determinado período de tempo. Mas, o que é crime é bastante relativo. Por exemplo, o código penal brasileiro de 1890 considerava crime a prática da capoeira, pedir esmola ou ficar embriagado em público.

Mas a prisão (e o sistema jurídico) é apenas uma ferramenta de contenção dessa população. Cardinot com seu programa 24 horas é crucial alimentando diariamente o ódio a esses ‘tipos de pessoa’ e consequentemente justificando o encarceramento e até suas mortes. Para ser justa, não é apenas os programas policialescos que capitalizam em cima das mortes de pessoas pobres - a mídia toda faz isso, o tempo todo. “Sob todas as suas formas particulares de informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto do entretenimento, o espetáculo constitui o modelo presente da vida socialmente dominante.”[os ricos] (Debord, 1967, p. 15) Pobres estão sendo ensinados a odiar outros pobres enquanto almoçam. E sabe quem também gosta de ver esse tipo de produto? O Jeff Bezos.

Crítica ao sistema capitalista mais lucrativa da história

Squid Game é atualmente a crítica ao sistema capitalista mais lucrativa da história da Netflix. Nos primeiros 23 dias, foi visto por 132 milhões de usuários De acordo com um documento interno da Netflix ao qual a Bloomberg teve acesso, a série sul-coreana gerou 891 milhões de dólares em “valor de impacto”, uma métrica utilizada pela empresa para medir a performance das séries mais vistas do serviço. Segundo Ted Sarandos, co-CEO da Netflix pode se tornar o programa mais assistido do serviço de streaming.

 

Mas isso, diz menos sobre a Netflix e mais sobre a realidade que boa parte das pessoas comuns do mundo vivem e pensam sobre o sistema econômico que vivem.

 

Em meio à pandemia do coronavírus, o número de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza triplicou, e atinge cerca de 27 milhões de pessoas. São 12,8% da população brasileira vivendo com menos de R$246 ao mês (R$8,20 ao dia).
Segundo pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (REDE PENSSAN, 2021), realizada no final de 2020, cerca de 116,8 milhões de pessoas “conviviam com algum grau de Insegurança Alimentar e, destes, 43,4 milhões não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões de brasileiros(as) enfrentavam a fome”.

Pobre por escolha

A analogia da lógica de loteria e aleatoriedade combinada com a ideia de meritocracia onde teoricamente o jogador mais talentoso, inteligente e sortudo teria sucesso no mundo real é no mínimo bizarro. Os desafortunados são pobres por causa de escolhas erradas ou pela sua falta de cinismo de sobreviver ao mundo real como Seong Gi-hun e Abdul Ali, ambos enganados pelos patrões. Já Cho Sang-woo, o ex-chefe de uma equipe de investimentos em uma empresa de valores mobiliários, tem seu sangue-frio lido pelo roteiro como inteligência, justificando seu declínio por pura falta de sorte.
Não coincidentemente a pobreza é também associada a falta de moral e boas escolhas em programas policialescos. Um jargão conhecido para se referir aos suspeitos presos era “alma sebosa”, geralmente acompanhada do bairro onde foram encontrados. Essas associações geográficas de Cardinot ajudavam a reforçar o velho estereótipo de “bairro perigoso” e é claro que esse bairros eram habitados em sua grande maioria por pessoas pobres.

A sociedade capitalista é uma loteria

A ideia de que a sociedade capitalista é uma loteria ou um jogo com regras fixas que podem ser escolhidas é atrativa o suficiente para a audiência média e inofensiva o suficiente para um Jeff Bezos, por exemplo. A diferença é que o dono de uma das maiores empresas do mundo, onde os funcionários são obrigados a fazerem xixi em garrafas por falta de tempo para ir ao banheiro, não se “diverte” com exploração, ou se livra do tédio e se entretém com os baixos salários.

Squid Game parece acreditar que existem bons e maus bilionários. Mas, esquece que para existir bilionários é necessário milhões e milhões — não de dinheiro — mas de pessoas passando fome e que não assinaram nenhum contrato para jogar esse jogo. Desde o filantropo Tony Stark, digo Bill Gates até o Jeff Bezos. Se existisse na vida real, Round 6 seria transmitido pela Globo, teria trend no twitter de quem mereceria vencer sem nenhum problema. Do mesmo jeito que Bronca 24 horas transmitido bem na hora do almoço permanece com picos de audiência até hoje.

Assistir as execuções sem consequências

Apesar de parecem muito diferentes, ambos Cardinot e Squid Game parecem comprometidos a lucrar com a naturalização da violência a certos grupos indesejados. Porque no fim das contas tudo é mercadoria. A roupa que os personagens vestem, a língua que eles falam e principalmente suas mortes. Round 6 isola seus jogadores fictícios e nos torna VIPS, ou seja, espectadores apáticos a mortes trágicas em tela. Temos a sensação do super poder de julgar e assistir as execuções sem consequências.
É importante para a classe dominante que nos acostumemos às formas mais brutas de violência. Para que sejamos incapazes de reconhecer que nós mesmos passamos diariamente.
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