Não consegui terminar de ver a primeira temporada da série Round 6 (2021). Depois do primeiro episódio e metade do segundo, cheguei a conclusão que não seria tragada por nenhum apelo narrativo, nem pelos seus personagens porque aos meus olhos eu só conseguia ver uma coisa: violência como espetáculo.
Antes de mais nada, gostaria de informar que este não se trata de um texto de análise. É apenas um comentário ancorado no que eu tenho visto e ouvido e principalmente no que me incomoda. Então vamos lá.
É claro que em parte eu já havia previsto parte do plot final, já que consumi há não muito tempo atrás a série Alice in Borderland (2020), além de outros produtos similares como a série de filmes Jogos Vorazes(2012–2015), Maze Runner (2014–2018), Circle (2015), Jogos Mortais (2004–2021). Entretanto, o curioso é que Round 6 me fez lembrar de outro produto de minha infância que assistia com meus pais sempre ao meio-dia na TV aberta: Bronca 24 horas com Cardinot da TV Jornal, emissora do Sistema Jornal do Commercio, em Pernambuco.
Punição em formato de espetáculo não é novidade para ninguém.
A punição em formato de espetáculo não é novidade para ninguém. Na civilização romana, haviam as penas-espetáculos Que submetia os criminosos a recintos repletos de animais selvagens ou, ainda, em uma cruel batalha corporal, das quais raríssimos permaneciam vivos. Tudo isso assistido pela população romana.
Com a queda da civilização romana e, por conseguinte, a chegada da Idade Média, o interesse da população pela punição de condenados continuou. Nesse tempo, as punições eram realizadas com fogueiras típicas da inquisição, que aglomeravam ao seu redor inúmeros espectadores (BITENCOURT, 2009, p. 30). Isso sem contar enforcamentos públicos, decapitações e crucificações.
Isso porque nessa época a punição de um crime era também uma espécie de vingança do governante(rei, imperador etc) quanto do Estado. O direito de julgar e punir era como um super poder e ele estendia-se indiretamente às plateias que testemunhavam seu acontecimento e que de certa forma pessoalizavam essa ‘vingança’ também.
“Todo malfeitor, atacando o direito social, torna-se, por seus crimes, rebelde e traidor da pátria; a conservação do Estado é então incompatível com a sua; um dos dois tem que perecer, e, quando se faz perecer o culpado, é menos como cidadão que como inimigo.” (Foucault, 1975 - Vigiar e Punir. pg 110)
O que é crime é bastante relativo
Complicou um pouquinho? Não vou entrar aqui na discussão sobre o papel social da prisão, então vamos pensar por partes. É papel do estado garantir a segurança de seus cidadãos. Entre algumas das formas de garantir isso estão os instrumentos repressivos como as prisões. Quem comete um crime, é preso, ou seja, tem os direitos(como direito de ir e vir, liberdade e privacidade) suspensos por determinado período de tempo. Mas, o que é crime é bastante relativo. Por exemplo, o código penal brasileiro de 1890 considerava crime a prática da capoeira, pedir esmola ou ficar embriagado em público.
Crítica ao sistema capitalista mais lucrativa da história
Squid Game é atualmente a crítica ao sistema capitalista mais lucrativa da história da Netflix. Nos primeiros 23 dias, foi visto por 132 milhões de usuários De acordo com um documento interno da Netflix ao qual a Bloomberg teve acesso, a série sul-coreana gerou 891 milhões de dólares em “valor de impacto”, uma métrica utilizada pela empresa para medir a performance das séries mais vistas do serviço. Segundo Ted Sarandos, co-CEO da Netflix pode se tornar o programa mais assistido do serviço de streaming.
Mas isso, diz menos sobre a Netflix e mais sobre a realidade que boa parte das pessoas comuns do mundo vivem e pensam sobre o sistema econômico que vivem.
Pobre por escolha
A sociedade capitalista é uma loteria
A ideia de que a sociedade capitalista é uma loteria ou um jogo com regras fixas que podem ser escolhidas é atrativa o suficiente para a audiência média e inofensiva o suficiente para um Jeff Bezos, por exemplo. A diferença é que o dono de uma das maiores empresas do mundo, onde os funcionários são obrigados a fazerem xixi em garrafas por falta de tempo para ir ao banheiro, não se “diverte” com exploração, ou se livra do tédio e se entretém com os baixos salários.