8 de março, dia da mulher. Qual mulher? Neste 8 de março de um ano que já nasce calejado e com esperança (talvez), como uma mulher, lembraremos da época da ditadura; produções além do Cinema Novo, com assinaturas de cineastas que nem a ditadura e o AI-5 conseguiram barrar – afinal, são mulheres.
Chegou a hora de falar daquela época, do tempo da ditadura no qual as vezes parece que nós mulheres não saímos, não existíamos e éramos inviabilizadas… Ou ainda somos? É por isso que esse texto é um ode a resistência e sobrevivência delas: Lúcia Murat e Tereza Trautman.
Leitor (a), você sabe o que é DCDP? Em 1969, o governo militar brasileiro investiu na cinematografia brasileira, investiu também na Divisão de Censura de Diversões Públicas, que funcionou entre 1972-1988, é a partir deste contexto que vamos conhecer Tereza Trautman – a dona do título de primeira mulher a dirigir um longa-metragem desde 1950, e que teve seu filme interditado pelo DCDP durante anos.

Agora você pode se espantar leitor(a) mas já em 1973, Tereza falava de feminismo, liberdade financeira e sexual. A adolescente participou do movimento estudantil em 1968 no Colégio de aplicação da USP, movida por seus ideais, levou para os cinemas assuntos de cunhos sociais e sobre tudo, femininos. Os Homens que eu Tive (1973), teve três sessões lotadas, até que enfim foi interditado e não liberado pela “instituição do casamento, sociedade, pessoas normais e de bem”... Isto te lembra algo?

Durante anos, Tereza tentou a liberação do filme no Brasil, e em 1980 a obteve, com o título “Os Homens e Eu” classificação 18 anos, o filme já não tinha tanto impacto quanto seu primeiro lançamento em 73, Teresa tentou realizar outros trabalhos mas foi marcada pela censura ditatorial e patriarcal.
Filme “Os Homens que eu Tive”, no Youtube.
Lúcia Murat – A cineasta que era integrante da luta armada contra a ditadura militar, foi presa pela primeira vez aos 18 anos, e presa novamente aos 21 anos pelo DOI-CODI, o símbolo da repressão militar. O Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna foi um órgão de extrema força e repressão no tempo de Ditadura, subordinado do Exército. Sua função era de repressão política em todo o país. E foi bem nesta época quando Lúcia Murat foi torturada de 1971 até ser solta em 1974.

Dez anos depois, em 1984, Lúcia lançava, junto a Paulo Adario, o documentário “O Pequeno Exército Louco” sobre a guerra civil na Nicarágua, estrelado por Somoza. No documentário, Lúcia discute sobre a presença norte-americana no país, desde a década de 30. Perceba que ela não se distancia da temática das guerrilhas, seja no Brasil, ou fora dele.

porém, é em 1989 que Lúcia estreia seu longa-metragem: Que Bom Te Ver Viva, protagonizado por Irene Ravache, como uma personagem anônima e traz uma série de depoimentos de guerrilheiras que passaram pela situação de tortura na Ditadura Militar no Brasil. No filme vemos uma série de depoimentos de guerrilheiras que, assim como Murat, tiveram de verdadeiramente sobreviver ao obscuro tempo de ditadura brasileira, e após os eventos, procurar também sentido em seguir com suas vidas.

Tereza Trautman e Lúcia Murat. Ambas vivem, assim como seus filmes e relatos de uma época não tão distante.

Link do Podcast: feito por elas, para escutar sobre Lúcia Murat e sua filmografia.