No Other Land relata um conflito que, de tanto ser visto, cansou os olhos e tornou-se invisível. Uma guerra que atravessa gerações. De um povo excluído, demonizado, desfigurado, e por fim, invisibilizado. “Acostume-se a perder. Você é um perdedor.”
“Acostume-se a perder. Você é um perdedor.”, exclama o nosso ‘protagonista’, o ativista palestino Basel, no documentário No Other Land (لا أرض أخرى ), de Rachel Szor, Hamdal Ballal, Yuval Abraham e Basel Adra. Um filme feito por um coletivo Israelita-Palestino, que denuncia as camadas de violência na guerra sobre a Palestina. Não há raiva na fala de Basel – e talvez seja algo que só um perdedor, ou melhor dizendo, um oprimido, possa entender. Não há derrotismo, nem desistência. Mas há um entendimento de que para existir um oprimido, deve haver um opressor.

A guerra dos invisíveis
No Other Land relata um conflito que, de tanto ser visto, cansou os olhos e tornou-se invisível. É sobre uma guerra específica, que atravessa gerações. De um povo que, através das gerações foi excluído, demonizado, desfigurado, e por fim, invisibilizado. É a Palestina e seu povo. Mas poderia muito bem ser sobre tantas expulsões, exclusões e mortes diárias – também invisíveis – bem aqui, em nossa terra. Bem na sua cidade, naquela desocupação em um terreno – dito – “invadido”. A pergunta em No Other Land é a mesma que faço aqui: Quem esteve aqui primeiro? Quem foi empurrado para os morros, para os altos, os córregos, para longe?
-Você vai para casa?
Talvez.
-Talvez? Hahaha
Vou para casa tomar um banho.
-É claro que você vai para casa.
Todo o diálogo ao redor de moradia e casa é doloroso no documentário. Palpável a dor em falar de casa sem ter nenhuma. Diálogos entrecortados de resistência, numa raiva que rapidamente dá lugar à resiliência de levantar de novo – sejam os muros, ou a cabeça. Não há casa, mas há uma terra em conflito. De povos que vieram antes deles. Antes de nós.
“Acostume-se a perder. Você é um perdedor.”
O coletivo palestino e israelita que produz No Other Land deixa uma importante lição com o documentário: revolucionar, resistir e ver a transformação toma tempo. É importante não perder de vista a luta. Mesmo quando toda adversidade – toda morte – atinge a terra por debaixo de nossos pés; que No Other Land e as derrotas mostradas ali, sirvam de impulso contra a opressão e contra essa morte. Revolucionar custa muito. Mas o medo e a exclusão também são formas de fazer censura. No Other Land ganha o Oscar de melhor documentário em 2025. É o prêmio mais importante do cinema internacional, que vence um filme sobre a Palestina, sobre os perdedores, e escancara ao mundo. Joga luz aos invisíveis. “Acostume-se a perder. Você é um perdedor.”