Tem o que o filme é e tem o que é dito dele. É lindo. Estupidamente lindo, colorido, cheio de “cores de Almodóvar”; planos abertos e bem iluminados, como janelas – filme a dentro – independente do humor e do tom da cena.
Por Joegrafia - Negro. Comunicador e Radialista. Editor, roteirista e fundador do NerdSpeaking. 🎙
The Room Next Door é lindo. Estupidamente lindo, colorido, cheio de “cores de Almodóvar”; planos abertos e bem iluminados, como janelas – filme a dentro – independente do humor e do tom da cena. Sinto saudades dessa claridão na maior parte dos filmes, hoje em dia. ‘La habitación de al lado’ é o mais recente filme de Pedro Almodóvar, de 2024. O filme estrela Julianne Moore e Tilda Swinton, que respectivamente representam Ingrid e Martha, amigas que se reencontram após anos sem se ver, só para descobrir que Martha está com um câncer terminal. Agora juntas, preparam-se para passar os últimos dias juntas, enquanto lembram-se das histórias vividas e lamentam a passagem da vida.
The Room Next Door tem a simplicidade de uma partida triste, mas programada, esperada. Uma doença que nem precisa de muita explicação, não há para quê. O importante não é começo ou fim; é o miolo. As histórias contadas e vividas entre as amigas. É quase infantil, com a cumplicidade entre Ingrid e Martha até a hora da partida. Julianne Moore parece melhorar a cada filme, sem limites de crescimento. A conexão com Tilda Swinton, mesmo quando os textos do filme tornam-se mais poéticos que reais, é fantástica. A entrega é real demais.
E aí tem todo o resto do filme: Uma crítica rápida, quase um tweet, transportado pelo fantástico John Turturro (Damian), sobre a insurgência neoliberalista que destruirá o mundo, talvez antes das próprias mudanças climáticas, que ele mesmo também critica. É meio confuso quando o mundo real atravessa a fantasia da vida em stand-by de Martha, acompanhada de Ingrid. Na verdade, parece mais um desabafo do diretor, em relação ao mundo ao redor. É justo, mas desconexo.
É estranho quando o filme tenta trazer realismo para dentro da imaginatividade do mundo natural e destacado de Almodóvar. Como falam dos filhos e suas dificuldades relacionais com eles, mas rapidamente voltam para a espetacular partida de Martha; daí vemos Ingrid assinando livros e vivendo sua vida e de repente, nada daquilo existe mais; uma hora apressados no hospital, noutra nada mais importa – exceto o plano, a rota de fuga de Martha.
The Room Next Door – cores de Almodóvar
O mais tenso de todo o filme é guardado para o fim, quando saímos do entre realidade e o final fantástico de Martha. Parece que começa um outro filme, desta vez sobre o luto. E é tão lindo quanto no começo, mas diferente. Sutil. Triste. “A neve está caindo […] Está caindo em sua filha e em mim. Sobre os vivos e os mortos.” The Room Next Door é um filme tranquilo, mesmo frente a temas tão duros, quanto a morte. Na verdade essa morte parece nem ter espaço no filme, quando tudo gira em torno da vida. Tudo isso banhado em cores de Almodóvar, planos abertos e muita, muita luz. Como saudar a morte, quando tudo ao redor é vida?