E dando início a série Quadrinhos e Racismo, falamos sobre a talvez mais famosa heroína negra dos quadrinhos – a personagem afro-americana Ororo Munroe, codinome Tempestade! Uma análise de sua primeira aparição, na revista Giant-Size X-Men – Nº1, 1975.
A personagem afro-americana, Ororo Munroe, de codinome Tempestade é filha de uma princesa africana e de um fotógrafo norte-americano. Ficou órfã muito cedo, graças a um acidente aéreo que destruiu sua casa e acaba matando seus pais. Tempestade é descendente de uma princesa Africana da qual herdou seus poderes místicos. É considerada a personagem feminino mais poderosa do universo Marvel. É uma personagem virtuosa. Uma líder nata que não foge das responsabilidades. Suas habilidades mutantes incluem controle do voo e das condições climáticas. Sua primeira aparição foi em Giant-Size X-Men Nº1 (Maio de 1975).
Tempestade foi lançada em uma época conturbada na história dos EUA. Com a segunda onda feminista, movimento hippie, movimento dos direitos civis entrando gradativamente nas pautas midiáticas na década de 70. Isso levou a criação de um grupo de heróis que representava a diversidade exigida na época: Os X-Men. Segundo Stuart Hall:
“A representação é o processo pelo qual membros de uma cultura usam a linguagem para instituir significados. Essa definição carrega uma premissa: as coisas, os objetos, os eventos do mundo não têm, neles mesmos, qualquer sentido fixo, final ou verdadeiro. Somos nós, em sociedade, entre culturas humanas, que atribuímos sentidos às coisas. Os sentidos, consequentemente, sempre mudarão de uma cultura para outra e de uma época para outra.” (HALL, Stuart. 2016.)
Sendo assim, podemos observar que a personagem passa por um processo de visão masculina eurocentrada na sua construção, mesmo sendo inserida em um grupo de heróis diversos. Em sua primeira aparição, Tempestade se apresenta como uma deusa africana de longos cabelos lisos, olhos azuis e traços finos. Seminua ela se apresenta poderosa no controle dos elementos naturais. Admirada pelo seu povo por sua beleza exótica e pela sua cor de ébano.
A imagem animalesca de Tempestade se funde com suas palavras de Deusa. Apesar de ser uma mutante, os traços do desenho(rosto felino olhos e minúsculos) se esforçam em mostrar uma personagem desumana e estranha. A precariedade do local em que a heroína se encontra é retrata com as súplicas de um povo que depende dos fenômenos da natureza para sobreviver. Mas uma vez, o continente africano sendo mostrado através de uma lente de pobreza e atraso.
Notando que a deusa Ororo é, nada mais que uma mutante, Professor Xavier faz uma proposta a personagem. Pede para que ela abandone aquele povo que a adorava e lhe trazia oferendas, para se juntar ele em sua escola de mutantes. O que mais chama a atenção é o fato de Xavier ter “oferecido o mundo”, como se a ilha do Kenya no oeste da África fosse algum exílio. Ele convence Tempestade que seu poder está sendo ‘desperdiçado’ em um lugar como aquele. E o mais surpreendente é que Tempestade aceita seu pedido. Apesar de ser símbolo de força e independência, Ororo parece ter todas as características básicas de uma personagem feminina no quadrinhos: docilidade, subordinação, devoção e fidelidade a uma figura masculina.
A série Quadrinhos e Racismo: Os Primeiros Heróis Negros é uma série de posts colaborativos entre Joe (@Joegrafia) e de Mallu (@malluoliveir_a), para falar das origens dos personagens negros nos quadrinhos. Uma série de análises das primeiras aparições dos hoje clássicos heróis negros da Marvel Comics e DC Comics, surgidos ali em meio a Era de Prata dos quadrinhos.