Janeiro é o mês dos quadrinhos nacionais! Então toda quarta-feira desse mês a gente faz uma indicação diferente por aqui. Para começar, ainda nesse tom de Recife, vamos falar de Tô Miró, HQ pernambucana que vem falar da obra marginal de Miró da Muribeca, repleto do que nossa cidade nos oferece.
Por Joegrafia – Negro. Comunicador e Radialista. Editor, roteirista e fundador do NerdSpeaking. 🎙
Tô Miró é uma HQ feita pelas mãos de Ayodê França, Christiano Mascaro, Flavão, Raoni Assis e Shiko, com publicação da Casa do Cachorro Preto, espaço cultural que existiu e resistiu no Sítio Histórico em Olinda até 2017, quando fechou as portas. O quadrinho de 2016 é uma junção das histórias de Miró da Muribeca, poeta recifense que carregava o nome de seu bairro periférico no nome artístico, e é muito bem representado em sua HQ; cheio de crueza, poesia, violência e marginalidade – como bem eram os seus versos líricos.
É muito diferente ler e ver ‘Tô Miró’ depois da morte do poeta. Na verdade, é muito diferente ler Miró através das tiras desenhadas de quadrinhos; a poesia de Miró tem aquela mesma “fedentina”, como dizia Chico Science, do que verdadeiramente é o Recife. E todo o sujo, urbano, fumacento e esse abandono são muito bem traduzidos pelos traços e desenhos em Tô Miró.
A violência, o caos e a periferia tem rosto na amálgama e no barulho que a gente lê nos desenhos do quadrinho. Há pouco espaço para ler os poucos versos de Miró – que continuam afiados e atuais. São 30 textos transformados em 300 exemplares que hoje se encontram distribuídos por bibliotecas públicas de todo o estado. Com sorte, você consegue acessar Tô Miró nesses espaços, só pra tomar um corte do tão necessário e tão atual Miró da Muribeca, tão bem traduzido pelo desenho marginal, da poesia marginal, do Recife marginal.
Miró da Muribeca, nosso poeta recifense e cidadão do mundo, nos deixou em 2022. Mas a sua poesia, seus versos líricos e violentos permanecem cravados no Recife.
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