Angústia, frustração e uma certa desesperança, num filme que retrata uma realidade igualmente distante e próxima de nós. Lanternas Vermelhas, ciclos destrutivos. Uma história de uma mulher que não consegue se encaixar numa sociedade que demanda sua total submissão.

Estou numa missão de zerar a lista de filmes que fica eternamente armazenada em um caderno velho que tenho. Indicações, menções e nomes que me chamaram a atenção desde a época da graduação que fiz. Hoje foi o dia de assistir Lanternas Vermelhas (ou, Raise the Red Lantern). Um drama angustiante de 1991, dirigido por Zhang Yimou. O filme se passa em uma China distante, de 1920. Narra a história de Um mestre e suas 4 mulheres, que devem constantemente disputar por sua atenção, e algo que vagamente se parece com carinho. Mas só vagamente. Eis a sinopse:
Na China de 1920, Songlian (Li Gong) é uma universitária de 20 anos que é forçada a se casar com um homem bem mais velho depois que sua mãe morre e sua tia não tem mais dinheiro para custear seus estudos. Seu marido é um homem de 50 anos que já tem mais três esposas, todas morando em casas diferentes. Cada noite ele decide com quem vai dormir, e a escolhida ganha massagem, lanternas vermelhas acesas e o direito de escolher o cardápio do dia seguinte. Tal costume gera rivalidade entre as esposas, e logo Songlian se vê envolvida em um mundo de intrigas femininas e conspiração de serviçais.

Angustiante. Destrutivo. Mas o ciclo continua. Um filme igualmente distante culturalmente de tudo o que conheço, mas também bem próximo, na cultura de misoginia, machismo e patriarcado, que regem o pequeno mundo de Songliam. Como peça desencaixada do quebra-cabeça desde sua primeira interação com a família de seu mestre, ela procura e não encontra o seu lugar nas disputas, nas falsas amizades com suas irmãs, igualmente concubinas, igualmente disputando por atenção e espaço.
A busca por toda essa atenção será exatamente a ruína de Songliam… Mas o ciclo continua – independente dela aceitar. É histórico e está entranhado. É mais forte que ela. Mais forte que o papel dela; “não é este o meu papel?” E os destinos se cruzam entre as quatro mulheres. Mas o final é sempre o mesmo. O que verdadeiramente nos tira o conforto em Songliam em sua relação com as co-irmãs – Meishan (He Saifei), Yuru (Jin Shuyuan) e Zhuoyun (Cao Cuifen), é a aceitação de uma vida inaceitável. É a forma como suas vidas foram devoradas por aquele sistema em que vivem, no qual não importa se foram famosas, servas, ricas ou pobres; o que importa agora é que são casadas com um nobre senhor, e agora são seus utensílios, seu material humano.
Uma tragédia de filme do início ao fim. Apesar da pouca ação, um filme tão tenso que cansa nos nervos. É pesado, triste. Mas muito lindo também. Raise the Red Lantern é dilascerante, porque é igualmente distante e próximo de tudo o que rege o nosso mundo. E não importando o impacto de uma luta travada contra este sistema, logo virá um novo ciclo, e essa luta se tornará uma memória de ninguém.